Dez e meia da noite de uma sexta-feira qualquer, ela
assistiu àquelas cenas a semana toda por tempo demais, e estava extremamente
saturada. Pega o telefone do bolso e procura por aquele número que já havia
tantas vezes tentado deletar.
“Oi, você provavelmente não tem o meu número, e não sabe
quem é, mas logo logo vai descobrir. Só lê. Não fala nada, não pára de ler, não
apaga essa mensagem antes de terminar, porque você pode até não querer saber
disso, mas é o melhor para você. Então, eu sei que você já não aguenta mais
olhar para a minha cara, e está extremamente grata por esse intervalo gigante
de tempo em que ficaremos sem nos ver. Acredite, eu também estou feliz com ele.
É só que eu soube, esses dias, de umas coisas. Soube do teu namorado, aquele
que você ama tanto. Então, ele não é o príncipe que você tanto queria que ele
fosse. Ele fala mal de você, ri das piadas que as pessoas fazem pelas suas
costas, e só está com você por conforto, comodidade, preguiça e falta de uma
opção melhor. É, isso mesmo. Ele é um sapato, querida. Ele é o tipo de pessoa
que você pode usar apenas como objeto, porque ele não sabe retribuir qualquer
outro tipo de sentimento. E é por isso que eu odeio tanto vocês dois juntos.
Porque eu sei que, não importando o quanto eu não vá com a sua cara, que vai
sair mal da história é você. É você que vai chorar, vai sofrer e vai se
lamentar, e eu sinto muito por isso. Mentira, eu não sinto por isso. Eu sinto
por toda essa perda de tempo que isso tem sido. Pra você, pra ele e pra mim
também. E, daqui há um tempinho, quando tudo acabar, você vai ser obrigada a
conviver com ele. É, vai ser uma droga, eu garanto. Enfim, feliz aniversário
pra vocês, que esse pouco tempo que ainda resta consiga te fazer enxergar toda
a verdade.”
Ela lê e relê diversas vezes, e então clica ‘enviar’.