segunda-feira, 22 de julho de 2013

Reflexo

Se levantou do chão e caminhou em passos longos e lentos até o espelho mais próximo. Jogou todo o seu peso em seus braços, apoiando-se na pia em frente ao espelho, e parou para observar à figura que encontrava à sua frente. Via um rosto familiar, porém distorcido. A pele, normalmente branca, estava rosada. O verde escuro de seus olhos estava praticamente imperceptível em meio a todo aquele vermelho encharcado que o envolvia. Uma cachoeira de fios emaranhados caía em mechas bagunçadas por todos os lados, abaixo da altura de seus seios, passando e grudando em algumas partes molhadas do rosto cansado. Seu lábio inferior estava branco, quase invisível, de tão apertado pelo conjunto de dentes retos. O outro lábio tremia incessavelmente, acompanhando os movimentos de seu nariz. Seus cílios estavam encharcados e suas sobrancelhas, bagunçadas. Respirou fundo e então percebeu que se aquela era a imagem que passava quando estava destruída, era melhor não passar imagem nenhuma. Jogou uma água no rosto, estampou um sorriso e saiu andando, como se nada tivesse acontecido.