Andando pelo cais em mais um de meus
passeios vespertinos, reparei mais uma vez naquela moça que estava sempre ali,
com aquele vestido preto esfarrapado e o cabelo grisalho. Minha curiosidade
sobre aquela senhora aumentava a cada dia, e dessa vez não me contive e fui a
seu encontro. Ela estava sentada em um dos antigos bancos de madeira que davam
vista para a beira do cais. Pedi licença, me sentei ao seu lado e resolvi
falar.
- Com licença, senhora, mas gostaria
de perguntar-te uma coisa. – Assisti enquanto ela desviava seu foco do mar ao
meu rosto e, com uma expressão de surpresa, assentia. – Bom, acontece que em
todos os meus passeios a esse parque, que costumam ocorrer semanalmente, eu
vejo a senhora sentada aqui, usando esse mesmo vestido e sempre olhando para o
mar. Venho aqui há mais de quinze anos, quando ainda era uma menina. Isso
despertou bastante a minha curiosidade. O que a senhora tanto procura nesse
mar?
- Bom, minha jovem, tudo o que posso
dizer é que procuro um amor. Um amor já nomeado, com endereço, idade e
características físicas já definidas. Nós nos conhecemos pelas ruas desta
cidade, em uma bela manhã de primavera. Vivemos muitos momentos felizes juntos,
e finalmente nos casamos. Vinte anos atrás, no entanto, ele foi chamado para
trabalhar com alguns amigos e, como precisávamos de dinheiro, ele partiu mar
adentro com a promessa de voltar. A partir desse dia, venho ao cais todas as tardes,
usando sempre esse vestido, para que ele me reconheça e não me confunda com
ninguém. Olho para o mar pedindo que meu amor retorne logo a meus braços, para
que possamos continuar nossa vida juntos, exatamente de onde paramos. Minha
esperança é inacabável, e meu amor é infinito.
- Ora, mas a senhora é louca.
- Se não se importa, prefiro o termo
apaixonada.