terça-feira, 28 de novembro de 2017

Inédito

Nunca escrevi pra você.
Começo assim porque essa foi a primeira coisa que me passou pela cabeça quando pensei neste texto. Nunca achei você digno das minhas palavras. Sim, nesse tom cruel mesmo que essa frase teve. E não se engane, você não passou a milagrosamente ser digno delas. É só que eu percebi que, por ter pensado em algumas coisas que você me disse mesmo já tendo se passado mais de três anos que eu a ouvi, ainda tem coisas tóxicas de você em mim. E escrever é meu jeito de tirar. Não tenho garantia nenhuma de que vá funcionar, mas já te parabenizo por ser minha primeira carta de desamor. Tem que ser muito babaca, mesmo, pra conquistar uma dessas.
Mas como eu cheguei à vontade de escrever pra você? Eu tava lendo um romance e pensando "caramba, esses amores de livro de menininha são muito lindos, né?". E aí eu me dei conta de que eu finalmente tenho um assim. Melhor do que um assim, até. Eu tenho, depois de tanto tempo lendo sobre vários amores lindos, o mais bonito de todos. Um que coloca no chinelo todos os protagonistas que eu conheço. E, chegando a essa conclusão, eu lembrei de uma das coisas horríveis que você me falou. Como esperado, eu tava certa e você tava errado. "Você fica lendo esses romances e só vai quebrar a cara com a vida real. Para de procurar personagem fictício", você disse. Foi ali que eu desisti de você. Não romanticamente, porque assim eu já tinha desistido há muito tempo. Mas de ter uma ligação com você, no geral. Dirigir a palavra a você. Porque deu pra ver, nessas palavras, que você tentou me atingir onde você achou que mais ia doer. Se ferrou. Não doeu nem um pouco. Eu não tava procurando nada, eu tava completa.
Eu era feliz, naquela época. Te disse isso um milhão de vezes, bem antes da gente se envolver. E você insistiu que ia me fazer feliz. Não entrou na sua cabeça, de jeito nenhum, que eu não precisava ser feita feliz por ninguém. Que eu me fazia feliz.
E, de tanto insistir, acabou que você foi o motivo da minha infelicidade. Suas constantes tentativas de insistir para permanecer na minha vida. Sua invasão da minha privacidade, do meu ciclo de amizades. Você destruiu coisas sagradas só de tocar nelas. Você teria destruído meus livros de menininha, se eu tivesse estado um pouco vulnerável naquela noite. Mas eu não tava. Eu tava forte. Eu sou forte, entende? Acho que você nunca entendeu.
Não era uma carta de três páginas que ia me fazer sentir alguma coisa boa em relação a você. Pensando bem, acho que nada poderia. Você se rebaixou ao que achou ser o pior nível de crueldade comigo, e a sua sorte (e minha também) é que você nunca me conheceu o suficiente para saber o que realmente me afetaria.
Não sua crítica aos meus hobbies, não você ter começado a namorar dois dias depois de se declarar pra mim. Nada disso doeu. Olhando pra trás, eu enxergo que a única coisa que doeu foi a demora pra eu conseguir me livrar de você. Você foi um peso na minha vida.
Foi por isso que eu gelei todas as vezes que você reapareceu nela. Desde aquela mensagem às cinco da manhã até a vez em que você contou pra uma amiga minha que falou de mim na sua terapia. Sua presença me congela e me faz mal.
Assim sendo, eu espero que essa carta apague toda a sensação ruim que surge em mim quando eu me lembro de você. 
Que a sua lembrança seja tão irrelevante pra mim quanto você foi.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Retrospectiva

Oi, eu de janeiro.
Confesso que quando eu comecei a pensar nessa carta, não sabia muito bem pra quem direcionar. Queria falar sobre a vida e não tinha um interlocutor fixo. Então pensei em você. Falar com nossas versões anteriores sempre foi uma boa opção pra gente, né? Pois então lá vai:
Eu lembro que você tá feliz pra caramba. 2016, o pior ano da vida de um monte de gente, foi maravilhoso pra gente. A gente encontrou o amor da nossa vida, o emprego dos sonhos, ganhou uma grana boa num temporário nas férias, foi bem pra caramba na faculdade... Que ano.
E pra 2017 você tava com uma expectativa enorme...
Más notícias.
Deu (quase) tudo errado.
Mas calma, o amor da nossa vida ainda tá por aqui. Comecei por esse assunto porque sei que é um dos mais urgentes. Ele ainda tá aqui, sendo a pessoa maravilhosa que ele sempre foi, desde o primeiro dia. E, acredite ou não, a cada dia melhora um pouquinho a vida com ele. Em todos os aspectos. Todos mesmo. Sim, nesse também, mas vamo deixar isso quieto porque vai que alguém da família um dia visita esse blog?!
Mas de resto... Vou te contar: ladeira abaixo.
Nosso emprego dos sonhos já era. Não, óbvio que a gente não foi demitida. A gente nasceu praquele trabalho. Mas a empresa fechou. Sabe como é, né? Crise.
Isso foi em maio, logo depois do nosso aniversário.
De lá pra cá, a gente começou em outra empresa, teve a primeira demissão da vida e teve que encarar que nem sempre a gente é perfeita em tudo. Mesmo quando a culpa não é nossa.
De grana, consequentemente, tamos mal. E logo na hora que o celular pifa, o computador não funciona direito, o ar condicionado quebra, a carteira de motorista vence, o carro precisa de vistoria... Tudo junto pra falir a gente ainda mais.
Nossas notas caíram. Nada absurdo, mas a gente tirou um seis. Sim, eu sei. Foi mal, juro que não foi culpa minha.
E, pra completar, ontem a vovó sofreu um AVC. Quer dizer, a gente não sabe ainda se foi ontem, porque ontem encontramos ela caída, apagada, desmaiada no chão da casa dela em Penedo. Não a gente no sentido de nós duas, como foi no caso do vovô. A gente no sentido de a família. Mamãe tá um caco.
Mas ó, essa não vai ser uma carta triste. Agora, com dezembro chegando e esse ano-cocô acabando, as coisas parecem estar se encaminhando pra dar certo.
Conseguimos um emprego novo (dessa vez emprego mesmo, não estágio) e tá sendo bem legal (pelo menos a primeira semana). É no Centro da Cidade e a gente tá indo sozinha, sem nem congelar de medo daquele lugar!
Ou seja, tá entrando um dinheirinho na conta. E tão surgindo outras propostas bacanas, também. Cruza os dedos.
A faculdade tá acabando. Monografia tá pronta, tem só mais dois trabalhinhos pra finalizar. Vai dar tudo certo, respira. Semana que vem não tem mais nada.
E a vovó já vai ser operada. Tá estável.
Acho que resolvi te escrever, afinal, porque precisava mesmo falar comigo.
Dizer pra eu acreditar. Reforçar a fé.
A gente consegue.
Vai ficar tudo bem.