sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Regressiva

Você vai morrer. Calma, não estou dizendo que isso vai acontecer amanhã, muito menos que eu sei a data em que isso ocorrerá. Tudo o que estou dizendo é que, inevitavelmente, você vai morrer. E aí o que acontece com todas as palavras não ditas e com os planos ainda não colocados em prática? Eles somem, desaparecem e torturam mentes e sonhos alheios por muitos anos. Porque você não é o único que guarda segredos. Muitas pessoas também se seguram para não dizer ou não fazer algo a seu respeito, tenha certeza. Depois da sua morte, como você pretende resolver todos os problemas que ainda existem? Como é que você vai descobrir a cura para o câncer, para a AIDS, se estiver morto? Ou talvez algo menor. Como é que seu cadáver pretende levantar do túmulo e alimentar os peixes do lago que fica naquele parque na esquina da sua casa, peixes que você alimentava todos os dias de manhã? Você pretende voltar dos mortos só para ouvir a sua melhor amiga reclamar das notas, dos namorados, da vida? Você não pode, querido. E todos aqueles “eu te amo” que você tem tanto medo de dizer, sabe? Então, são eles que vão ficar vagando para sempre em algum espaço indefinido. Ninguém vai ouví-los, e talvez até duvidem que eles um dia pensaram em existir.

Você vai morrer, e não há nada que você possa fazer em relação a isso. Que tal então viver com toda a intensidade para, quando você for, poder descansar em paz?

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Folia

Ali, no meio de uma multidão calorosa e agitada, foi que ela o viu. Ele vestia roupas simples, porém inapropriadas para a folia que o cercava. Entendia-se facilmente que ele só queria escapar do amontoado de pessoas que o cercava, fugir da bagunça. Ela, como boa entendedora que era, não precisou de mais do que dois segundos para traçar o perfil daquele menino tão atraente. Era tranquilo, brincalhão, apesar de preferir paz à bagunça. Suas roupas demonstravam que era respeitador e charmoso. Naquele momento, ela, que estava vestida de policial, torceu com todas as forças para que aquele rapaz a fizesse de presidiária, que ele a guardasse para si. Nas frações de minuto em que seus olhares se cruzaram, ela desejou saber tudo sobre o menino. Queria saber se ele gostava de feijão, qual era sua cor favorita, se jogava cartas e que esporte praticava para manter aquele tão belo corpo. Ficou curiosa a ponto de ter vontade de descobrir quanto o menino calçava, o tipo de sorvete do qual mais gostava e se ele gostava de filmes de terror. Queria saber seus maiores interesses, seus mais profundos segredos e suas mais fúteis manias. Mas acabou. O menino conseguiu, finalmente, desviar das pessoas, entrou em seu carro e foi embora. Ele, provavelmente, nem reparou na bela mascarada que estava ali, embasbacada, encarando sua bela face. Mal sabia ele que ela o observava partir, certa de que sonharia com seu rosto por muito tempo depois daquele dia.