domingo, 29 de maio de 2016

sábado, 28 de maio de 2016

Clarice

É esquisito como foi rápida essa aproximação, sabe? Em um momento em que eu tinha certeza de não precisar de mais nada na vida, você apareceu me mostrando que eu estava perdendo um monte de coisa ao não te ter por perto. A gente demorou um pouquinho pra perceber a quantidade de semelhanças entre nós mas, no segundo em que elas foram notadas, a mudança aconteceu quase do dia pra noite. De repente, você se tornou uma das pessoas em que eu mais confio nesse mundo. Você me compreende em um nível que eu jamais pensei que seria possível, estando há - relativamente - tão pouco tempo perto de mim. Não sinto uma ligação forte assim com gente que está na minha vida há mais de dez anos, sabe? E tenho até um pouquinho de medo de admitir o quanto me apeguei a sua amizade, a sua presença acolhedora, que sempre faz parecer que - de uma forma ou de outra, não importa quanto tempo demore - as coisas vão dar certo.
Não demonstro isso pra você quase nunca (me desculpa por isso, aliás), mas é parte desse medo que eu falei. Se eu admitir em voz alta, vai doer ainda mais a possibilidade de você resolver se afastar. Eu tenho esse carma, sabe? As pessoas decidem se afastar de mim e eu fico sem entender exatamente o que aconteceu. E isso já aconteceu com a gente, mas de outro ângulo. Abandonaram a nós duas. E não vou mentir: doeu. Doeu pra caramba e ainda dói quando os resquícios do desleixo são esfregados bem em cima das nossas feridas abertas. Mas, céus, como é mais tranquilo passar por isso tendo alguém em quem me apoiar. Espero que eu sirva tanto de apoio para você como você tem estado ao meu lado, apesar de eu duvidar ter essa capacidade toda de tranquilizar alguém que só a sua voz já possui. Espero que você saiba que, a qualquer momento, pode chamar que eu vou aparecer. Espero que você já tenha percebido a importância e o lugar de destaque que conquistou na minha vida.
Quero te agradecer, mas não sei como. Por cada momento de risada e por cada abraço, por cada lágrima compartilhada e seca, por cada minuto de companhia em tantas situações diferentes. Por entender e sentir, também, as coisas mais esquisitas que se passam dentro de mim. Por não revirar os olhos para os meus problemas bobos que me fazem parecer uma adolescente de quinze anos. Por confiar em mim e mostrar tanto afeto, apesar de eu raramente achar que mereço. Por ser um sorriso certo, uma presença garantida. Por ir longe por mim, como raramente as pessoas vão, como eu nem espero mais que qualquer um vá. Por me surpreender positivamente sempre. Por não me julgar. Por ser quem você é (mesmo que seu nome, às vezes, por algumas brincadeiras, mude bastante). Por se encaixar direitinho nos buracos que a vida fez em mim, e por não se importar com eles.
Mais do que tudo isso, quero que você saiba, bem no fundo do seu coração, que eu tô aqui. Pra tudo. Não só pra retribuir tudo o que você fez e faz por mim - que é muito - mas porque você merece. Céus, menina, você merece o mundo todinho! Queria ser capaz de te guardar em um potinho e te proteger de todo o mal que insiste em ficar te atingindo. Enquanto isso não é possível, deixa eu te dar apoio? Posso não ser muito útil em vários momentos, mas prometo que te ajudo a segurar a barra - ou os furadores de fila - pelo tempo que for necessário.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Donas

Sou das palavras
Pertenço a elas
Elas fazem de mim
O que quiserem.

Sou escrava das letras
Que me iludem
E me forçam a trabalhar
E a viver.

Sou boba pelas sílabas
Que saem de lábios
E de dedos
E entram na minha pele.

Sem
Nem
Pedir
Licença.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Conselho

Queria voltar ao ano 2000 e dizer pra eu daquela época que a nossa paixonite ia crescer e, 15 anos depois, voltar a ter contato com a gente. Mas só como amigo, mesmo, porque ele também gosta de meninos.
Queria voltar a 2001 e contar pra Paula de 5 anos que o filho do amigo dos nossos pais realmente ficou bem gato com o tempo, mas que ela nem precisa se desgastar pensando nele porque - além de não querer nada com a gente - ele se mudou pra Brasília.
Queria voltar a 2003 e avisar a minha versão daquela época que a paixão pelo menino que ela acabou de acontecer até vai durar muito, mesmo, mas que em nenhum dos sete anos de existência dela, vai dar em alguma coisa.
Queria voltar a 2011 e relatar cada acontecimento relacionado ao objeto de afeto da Paula debutante. Como ele não vale a pena e só dá dor de cabeça.
Queria que a Paula de aqui a alguns anos voltasse, rapidinho, em 2016, só pra me contar o que acontece com essa história embolada na qual a eu de 2014 se meteu.
Quem sabe.

Âncora

Ela é minha âncora. Não importa por onde ou em que sentido, é sempre por ela que procuro para me manter firme à terra. Ela me guia e me conduz como se soubesse exatamente o que fazer a todo momento, e eu desconfio que ela saiba, de fato. Houve um tempo em que eu não tinha certeza de nada além do sorriso dela ao meu lado todas as manhãs, e foi essa certeza que me manteve acima da superfície enquanto tudo ao meu redor parecia afundar em um oceano de desespero.
Lembro-me bem da primeira vez em que ela salvou a minha vida – em muitos sentidos diferentes. Eu estava embriagado, sentado ao balcão de um bar, xingando a tudo e a todos que me cercavam. Nem mesmo bartender tinha mais paciência comigo, àquela altura. Ele simplesmente revirava os olhos e enchia meu copo com mais uma dose a cada vez que eu pedia – já tinha desistido de tentar me convencer a parar antes de alcançar meu limite. Estava claro para qualquer um que eu já o tinha alcançado – e ultrapassado – há muito tempo.
Ela estava passando pelo lado de fora do estabelecimento quando eu a vi pela primeira vez. Os cabelos vermelhos combinavam com o vestido de mangas compridas, quente demais para aquele dia de verão. O sol batia no rosto dela, e só então eu percebi que já tinha amanhecido. Eu já a tinha visto em algum lugar. Meus sonhos, cogitei, mas acreditava ser mais do que isso. Percebi que estava certo quando ela retribuiu meu olhar e, ao me reconhecer, resolveu entrar no bar. Fiquei consciente, de repente, do meu estado. Eu não estava apresentável, provavelmente fedia a cerveja e sem dúvidas tinha uma expressão de derrota no olhar.
- Pedro? – Ela se aproximou, e a voz dela era o único som que não me fazia querer bater a cabeça na parede repetidamente até o mundo ao meu redor se calar. – Achei que você estivesse com os meninos... Eu estava indo para lá, para o aniversário do Gabriel. Você não vem?
Eu não me lembrava do aniversário do Gabriel. Arrisco até dizer que, naquele momento, eu não lembrava nem quem era o Gabriel, apesar de conhecê-lo, basicamente, desde que nasci, e de ele ser um dos meus amigos mais próximos. Mas o Gabriel entenderia se eu não aparecesse. Ele sabia como a minha vida estava de cabeça para baixo. Com tudo de pernas para o ar. Eu estava no fundo do poço, e se alguém tinha a obrigação de compreender isso, esse alguém era meu melhor amigo.
- Eu não estou muito em condições de ir. – Ri da minha própria desgraça, menos consciente do quanto eu a estaria assustando. Ainda não lembrava o nome dela e nem de onde a conhecia, mas se ela era amiga do Gabriel, isso já deveria bastar para mim.
- Eu percebi. – Ela ruborizou. Eu achava que as pessoas só faziam isso em livros, filmes e histórias em quadrinhos. Nunca tinha conhecido ninguém que ruborizasse na vida real. Quis guardar aquela imagem na memória, e lembro que fiquei morrendo de medo do álcool apagá-la. – Aliás, você está com uma cara péssima, mesmo. Mas eu sei o que pode ajudar. Vem comigo.
Não sei o que a levou a fazer aquilo, mas sou grato até hoje por ela ter feito. Em um ímpeto, ela pagou minha conta (com uma gorjeta generosa ao bartender, eu reparei, o que o fez agradecer bastante), me puxou pelo braço e me tirou do bar escuro. A luz do sol machucou meus olhos e ela riu da careta que eu fiz.
- Pra onde você vai me levar? – Consegui perguntar, mesmo atormentado pelo excesso de luz.
- Se eu te contar, perde a graça.
Quando dei por mim, estávamos juntos em um carro, ela ao volante e eu com a cabeça apoiada na janela do passageiro. Ela já estava quase estacionando ao lado de um campo extenso de margaridas que eu nunca nem soube que existia. As flores pareciam gritar pelo contraste do amarelo com o azul do céu. Eu não via nada além da natureza, eu não sentia nada além da paz que o lugar transmitia.
E, claro, eu a via. Ela, em todo o esplendor de seu vestido vermelho. Ela me puxou pelo braço e me guiou até uma clareira, onde sentamos e conversamos sobre a vida. Ela fez tudo parecer mais fácil. Ela fez com que eu visse sentido, visse uma saída de todos os meus problemas. Ela me apresentou a luz no fim do túnel. Uma luz fluorescente...

Foi quando eu percebi que ela não existia. Nada daquilo era real. Abri os olhos lentamente, a cabeça latejando por causa do excesso de bebida. A luz fluorescente era uma lâmpada. Demorei a entender o ambiente ao meu redor. Garrafas de bebida e um bartender impaciente. Tinha sido tudo um sonho. Minha âncora não era real, e nada me impedia mais de me afogar no oceano de desespero que me rodeava. Dei um último suspiro e deixei-me afundar.

domingo, 15 de maio de 2016

A()gente

Tem uma diferença muito grande - e não apenas a semântica e a linguística - entre a gente junto e a gente separado. E não sou nem eu quem está dizendo isso, que já fique claro desde o princípio. É algo que me disseram e que eu não consigo mais tirar da cabeça. A gente tem uma energia palpável, aparentemente. Há mais de um ano, antes de isso tudo virar a bagunça que é hoje em dia, um certo casal me observava conversando com outro moço. Eu tinha interesse, ele também, e nós dois sabíamos, mas isso não ficava claro pra quem olhava de fora. Esse casal, inclusive, chegou a comentar o quanto parecia que eu queria sair correndo dali na primeira oportunidade que surgisse. Eu e o moço não criamos um clima no ar, sabe? Parecíamos apenas duas pessoas juntando o útil ao agradável. A gente separado não é uma cena inspiradora de se ver.
Esse casal, no entanto, já presenciou a gente junto, também. Eles estavam presentes em vários dos nossos momentos de recaída... E sabe o que é curioso? A moça que faz parte dele sempre relata que o ambiente muda quando a gente tá junto. Surge uma entidade no ar... Surge um aspecto palpável e claro de que a gente tá exatamente onde deveria, e acompanhado de quem deveria.
Como faz truques, esse universo.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Saudade

Ela é uma menininha minúscula com só dois dentes aparentes na parte da frente da boca e o cabelo caindo em pequenas cascatas de cachinhos marrons ao redor do rosto. Os olhinhos verdes e curiosos vasculham o ambiente em busca de algo no qual focar, alguma coisa que valha a pena. Os pés desajeitados traçam caminhos confusos pelo asfalto, mas as mãozinhas firmes se mantêm cerradas por medo de ir longe demais. A boca não deixa de esboçar aquele sorrisinho lindo nem por um segundo sequer. A vontade que eu tenho é de abraçá-la e dizer que eu vim do futuro, de 18 anos a frente, e que vai ficar tudo bem. Pedir que ela aproveite cada segundo e, por favor, se liberte um pouquinho mais. As amarras, com o tempo, só se fortalecem.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Encontro

Nunca acreditei em nenhuma dessas teorias sobre sonhos... As que dizem que quando sonhamos com alguém é porque esse alguém também está sonhando conosco, então, sempre achei a maior besteira. Até porque, se funcionasse assim, metade das celebridades de Hollywood já teria sonhado comigo pelo menos uma vez. Concluí desde cedo que era tudo palhaçada, história para boi dormir e menina apaixonada se iludir. Só que essa noite eu tenho certeza que a gente se encontrou lá no plano astral dos sonhos. Certeza absoluta, mesmo. Ok que não foi tão diferente de qualquer sonho comum que eu tenho, mas seu abraço era tão mais real, suas palavras tão... Tão suas... Não soaram como algo que eu inventaria na minha mente. E, mais do que isso tudo, minha cabeça jamais faria você desviar o rosto de um beijo meu. Isso só quem faz é a sua consciência, desde sempre. Esse é um dos principais motivos pra eu estar tão convicta de que você (acompanhado pela sua consciência, infelizmente) foi até o meu sonho pra me ver. Pra dizer tudo o que eu queria e não queria ouvir. Pra me segurar nos seus braços uma vez mais, porque já tem tempo pra caramba que a gente nem se toca, e só eu sei (ou talvez você saiba, também) o quanto isso faz falta.
Eu provavelmente estou me iludindo e me deixando cair na mesma armadilha da qual sempre fiz piada... Mas fala sério, como é bom achar que a gente se viu um pouquinho mais, mesmo...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Bom

Ele é um bom garoto,
Disseram.
Diferentemente de você,
Disseram.

E esse era exatamente o problema.

Dividida

É tão esquisito
Que em mim
Haja tantas
Sensações conflitantes.

Um frio na barriga
Por um rapaz recente
Some em um segundo
Se o moço antigo ressurge.

E eu não quero apego
Com ninguém.
Não quero cobrança
Não quero trabalho.

Mas, ó céus,
Como amo carinho
Com um ou com outro
Seria tão bom...

terça-feira, 3 de maio de 2016

Cacos

Eu quebrei
Meu próprio
Coração.
E o perdi.

Sem querer,
Fui deixando caquinhos
Em ruas
Em esquinas
Em mãos.

E agora
Não sobrou
Nada
Pra mim.

domingo, 1 de maio de 2016

Crua

Custo a acreditar que as pessoas realmente gostem de mim, sabe? E nem digo de modo romântico, esse nem entra na discussão. É no geral, mesmo. Uma ou outra me convencem de que eu realmente agrado, mas a sensação constante é a de que eu estou incomodando, de que sempre falo as coisas erradas nas horas erradas, de que estou invadindo, que não me encaixo, que nunca deveria estar ali. Eu faço de tudo por todos porque isso me deixa feliz, me faz sentir parte de algo, mas acho muito esquisito quando alguém faz um esforcinho por mim também. Me surpreende o fato de alguém dar mais do que um passo pra me agradar. Eu não cobro porque eu tenho medo de descobrir que não ia receber de qualquer jeito. Prefiro não confirmar as minhas suspeitas. É por isso que custo a acreditar que realmente gostem de mim. Eu mesma raramente gosto.