Nunca escrevi pra você.
Começo assim porque essa foi a primeira coisa que me passou pela cabeça quando pensei neste texto. Nunca achei você digno das minhas palavras. Sim, nesse tom cruel mesmo que essa frase teve. E não se engane, você não passou a milagrosamente ser digno delas. É só que eu percebi que, por ter pensado em algumas coisas que você me disse mesmo já tendo se passado mais de três anos que eu a ouvi, ainda tem coisas tóxicas de você em mim. E escrever é meu jeito de tirar. Não tenho garantia nenhuma de que vá funcionar, mas já te parabenizo por ser minha primeira carta de desamor. Tem que ser muito babaca, mesmo, pra conquistar uma dessas.
Mas como eu cheguei à vontade de escrever pra você? Eu tava lendo um romance e pensando "caramba, esses amores de livro de menininha são muito lindos, né?". E aí eu me dei conta de que eu finalmente tenho um assim. Melhor do que um assim, até. Eu tenho, depois de tanto tempo lendo sobre vários amores lindos, o mais bonito de todos. Um que coloca no chinelo todos os protagonistas que eu conheço. E, chegando a essa conclusão, eu lembrei de uma das coisas horríveis que você me falou. Como esperado, eu tava certa e você tava errado. "Você fica lendo esses romances e só vai quebrar a cara com a vida real. Para de procurar personagem fictício", você disse. Foi ali que eu desisti de você. Não romanticamente, porque assim eu já tinha desistido há muito tempo. Mas de ter uma ligação com você, no geral. Dirigir a palavra a você. Porque deu pra ver, nessas palavras, que você tentou me atingir onde você achou que mais ia doer. Se ferrou. Não doeu nem um pouco. Eu não tava procurando nada, eu tava completa.
Eu era feliz, naquela época. Te disse isso um milhão de vezes, bem antes da gente se envolver. E você insistiu que ia me fazer feliz. Não entrou na sua cabeça, de jeito nenhum, que eu não precisava ser feita feliz por ninguém. Que eu me fazia feliz.
E, de tanto insistir, acabou que você foi o motivo da minha infelicidade. Suas constantes tentativas de insistir para permanecer na minha vida. Sua invasão da minha privacidade, do meu ciclo de amizades. Você destruiu coisas sagradas só de tocar nelas. Você teria destruído meus livros de menininha, se eu tivesse estado um pouco vulnerável naquela noite. Mas eu não tava. Eu tava forte. Eu sou forte, entende? Acho que você nunca entendeu.
Não era uma carta de três páginas que ia me fazer sentir alguma coisa boa em relação a você. Pensando bem, acho que nada poderia. Você se rebaixou ao que achou ser o pior nível de crueldade comigo, e a sua sorte (e minha também) é que você nunca me conheceu o suficiente para saber o que realmente me afetaria.
Não sua crítica aos meus hobbies, não você ter começado a namorar dois dias depois de se declarar pra mim. Nada disso doeu. Olhando pra trás, eu enxergo que a única coisa que doeu foi a demora pra eu conseguir me livrar de você. Você foi um peso na minha vida.
Foi por isso que eu gelei todas as vezes que você reapareceu nela. Desde aquela mensagem às cinco da manhã até a vez em que você contou pra uma amiga minha que falou de mim na sua terapia. Sua presença me congela e me faz mal.
Assim sendo, eu espero que essa carta apague toda a sensação ruim que surge em mim quando eu me lembro de você.
Que a sua lembrança seja tão irrelevante pra mim quanto você foi.