De uns dias pra cá, venho pensando em como tudo mudou. Como
tudo ficou tão diferente e de como eu gosto de como as coisas estão. É como se
minha realidade ao seu lado se afastasse cada dia mais de mim. E, honestamente,
gostei disso. Gostei de perceber que não tenho mais a dependência de você que
eu costumava ter a tanto tempo. Senti-me bem ao notar que vivo de maneira
maravilhosa sem você ao meu lado. É como se eu tivesse, por um momento,
trancado a minha vida para você. Como se eu tivesse juntado todas as minhas
forças e finalmente dito “não” a você. Um não forte e permanente. Mas ah, eu
sei muito bem que isso é apenas uma impressão. Infelizmente, por mais que eu
negue para mim e para todos os que perguntam, há um pedaço de mim – um muito
grande, na verdade – que clama por você a cada oportunidade. Eu sei que se, em
um momento de fraqueza ou solidão, você viesse a mim, essa porta se abriria com
uma facilidade impressionante, como se estivesse aberta durante todo esse
tempo. Afinal, eu não posso negar, de jeito nenhum, que sempre estive e sempre
estarei disposta a ser teu porto-seguro, se necessário. Afinal, já me submeti a
isso tantas vezes. O que me espanta, pois deveria ser errado e não parece nem
um pouco errado no geral, é a facilidade com a qual eu abriria essa porta. Acho
que, na verdade, você é a pessoa que tem a chave mestra. Independentemente de
quantas vezes eu troque a fechadura, ou da dimensão da força que eu use para bater
a porta, você sempre será bem-vindo aqui, nessa muralha que é protegida por uma
simples porta de madeira, desgastada de tanto abre e fecha.