quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Apocalipse


O mundo acabou. Assim, sem mais nem menos, todo o chão desabou e as folhas das árvores de repente não cumpriam mais o papel de proteger do sol cruel. E o sol era quente e gelado ao mesmo tempo, e penetrava na alma como quem faz um interrogatório. E agora? Ele perguntava. E agora o que você faz? Não tinha o que fazer, e não havia resposta. O que se faz, afinal, depois que o mundo acaba? Era pra tudo simplesmente ter ido pelo ralo, junto com as flores e as cores e os sons. Mas ficou algo. Ficou uma escuridão e ficou uma solidão e ficou um vazio e ficou um vácuo. Ficou um buraco por dentro que talvez fosse um buraco enorme por fora e talvez fosse uma queda livre no buraco e talvez… Tudo talvez. Nenhuma certeza e nenhuma satisfação. Dúvidas, questionamentos, e se e se e se. O mundo acabou e não deu pra segurar na ponta dos dedos. Se esquivou dos planos como quem foge de um predador raivoso. O mundo correu e resolveu fugir e resolveu acabar e resolveu deixar só a tristeza e o escuro (que tanto causa medo desde sempre). O mundo acabou e ficou o desconhecido. Ficou o terreno não explorado, a área que nunca foi tratada e com a qual não lidaram. Ficou o mal resolvido. Ficaram os gritos e ficaram as lágrimas e todos os sorrisos se foram e já avisaram que não têm hora para voltar. O mundo acabou. Acabou sem pena e sem planos, mas com pressa. Acabou tão rápido que um piscar de olhos parecia uma eternidade, e demorou tanto a acabar que cinco anos pareceram um flash. Uma história contada por trás das pálpebras e debaixo dos lençóis e terminando em gargantas fechadas e vozes silenciadas. O mundo acabou e com ele acabou toda a projeção. O mundo acabou sem a menor consideração. Acho que isso ele aprendeu com você.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Descanso

Dormir com você
É gostoso demais.

Só perde para vezes
Em que a gente tá acordado.

Começo

Você apareceu e eu meio que não depositei muita esperança, sabe? Ia ser mais um que ia me animar, me proporcionar momentos bacanas e depois ia perceber que eu não era bem o que tava procurando. Mas eu não liguei muito, tava contente com a possibilidade de explorar mundos novos, pessoas novas... E acabou que você foi a melhor pessoa nova que surgiu pra mim em um bom tempo.
A gente saiu e eu meio que não tinha muita esperança, sabe? Seria mais uma ida ao cinema com alguns beijos que ficaria só nisso mesmo, porque você não ia ligar no dia seguinte e nem responder às mensagens que eu enviasse. Como foi com os outros. Só que aí você se preocupou com meu bem estar desde o começo, me acompanhou até onde deu, pediu pra eu avisar quando chegasse segura em casa e - num gesto extremamente adorável - fez uma dancinha de comemoração por ter se encontrado comigo. E bem ali, mesmo eu já estando ganha antes, você me ganhou mais ainda. Só que não era uma competição, como ainda não é. Você não ligou no dia seguinte, de fato, mas foi porque a gente não parou de se falar nem por dez minutos - e o telefonema não se fez necessário.
Você manteve contato e eu meio que não tive muita esperança, sabe? Aquele botãozinho na minha cabeça deixava bem claro que em instantes chegaria a hora em que você cansaria (ali eu já sabia que essa função não era mais minha). Só que aí você fez seis horas extras no trabalho e saiu do seu caminho só pra me ver por vinte minutinhos, porque passar o mês seguinte longe sem nem se despedir parecia uma ideia insuportável demais. Nesse momento, mais uma vez, eu me apaixonei por você.
Como me apaixono todos os dias.
Todo o tempo.
Por tantos motivos.
E se eu já achava que o nosso começo era glorioso e admirável, mal sabia a eu daquela época que, sim, dava pra ficar ainda mais feliz.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Projeção

São cinco da manhã de um sábado qualquer. Ela está sentada em frente ao computador, com fones nos ouvidos e uma expressão confusa no rosto. Ao lado, na cama bagunçada, ele dorme de bruços, com uma expressão serena e o cobertor tampando metade do corpo. Ela veste apenas a calcinha e uma blusa dele, grande demais, a que estava mais perto das mãos quando tateou no armário (sentia frio, por isso estava vestida. No geral, nenhum dos dois usava roupas quando estavam sozinhos dentro de casa). Do nada, sente o corpo inteiro arrepiar em resposta ao leve toque na bacia e o beijo suave na omoplata, onde por baixo da blusa se esconde uma tatuagem que ele já decorou, de tanto apreciar. Ela sorri e afasta um fone, sorrindo. 
"Te acordei? Tentei digitar no maior silêncio possível, desculpa"
"Quantas vezes a gente vai precisar reforçar o pacto de não pedir desculpa à toa?"
"Desculpa" eles riem "acordei inquieta e vim trabalhar no TCC, mas não pretendia atrapalhar seu sono"
Ele puxa uma cadeira e se acomoda ao lado dela, primeiro encarando a tela e depois desviando o olhar para os olhos verdes (que ele um dia acreditou serem castanhos) que o encaravam com carinho. Apesar do sono que ainda sente, não resiste ao sorriso de cansaço que ela também exibe.
"Tudo bem, eu fiquei jogando videogame enquanto você dormia, porque você pegou no sono muito cedo e eu não tava cansado, então acho que estamos quites" e conclui a frase já aproximando a boca novamente do corpo dela. Toca a camisa com a ponta dos dedos e faz uma expressão engraçada com o rosto. "Frio?" Ela só assente. Ele ameaça afastar o tecido da pele, e olha para o rosto dela novamente, pedindo consentimento. Ela sorri e tira a camisa, seguindo o sinal para se aproximar do corpo dele e de lá pegar o calor necessário. Sente o cheiro familiar e mais uma vez se sente em paz.
"Você devia voltar a dormir. São seis da manhã" sussurra no peito dele.
"Cinco. E você não tá com sono, também?"
"Fiz café" o rosto dele se ilumina com a menção à bebida na qual ele fez com que ela se viciasse, também "e preciso terminar o texto"
"Você é apressada"
"Somos dois" ela o encara "e eu te disse uma frase parecida com essa há um tempo, na primeira vez que a gente saiu"
De alguma forma, a mesma lembrança invade as duas mentes, e eles não precisam verbalizar para saber que estão conectados. Um flashback do beijo na escada rolante do shopping, das risadas que seguiram e do início daquela relação passa como um filme para os dois.
"É que quando se trata de te amar, não consigo esperar"
E a explicação dele é suficiente para que nenhum dos dois precise mais se conter por um minuto. O papel da espera fica, dessa vez, destinado ao TCC ainda não concluído e à arrumação da cama, que se dificulta mais a cada momento de paixão.

domingo, 4 de setembro de 2016

Ah

Queria ter palavras
Para tudo o que
Você me faz sentir

Enquanto não as acho
Expresso, em meu máximo,
Por gemidos.

domingo, 28 de agosto de 2016

Rabisco

Isso seria uma carta de amor, mas eu nunca vou achar palavras suficientes pra juntar em um papel e te entregar, satisfeita de que o conteúdo vá traduzir todos os meus sentimentos. Fica, então, como um rascunho, uma junção de pensamentos (porque os meus ultimamente têm sido completamente tomados por você). Aos pouquinhos, com cada gesto seu, cada vez me cresce mais a vontade de me declarar de todas as formas existentes. E, vai por mim, não há formas suficientes. Nada é suficiente pra chegar perto dessa paz que você me causa. Nada me inunda tanto. Nada me derrete como você. Acho que o que eu mais te digo - entre tantos eu te amos e eu te queros - é obrigada. Espero que não seja cansativo, porque eu preciso expressar o quão grata, acima de tudo, eu sou. Por você, por nós, por cada momento. Eu nunca vou conseguir agradecer o tanto que você merece. Mas todos os dias tento retribuir. Um dia vai.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Aroma

Melhor do que chegar
de um dia cansativo
colocar o pijama
e sentir seu cheiro nele...

Só mesmo a sensação
do seu corpo contra o meu
e seu aroma me inundando
a cada inspiração.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Calçado

Por muito tempo
Andei descalça
Curtindo as texturas
As temperaturas
E a liberdade.

Sonhei, confesso,
Com lindos saltos
Rasteirinhas confortáveis
E tênis resistentes.

Até que um dia,
Sem nem imaginar
Achei um sapato
E me apaixonei.

Desde então,
Decidi que nunca
O tiraria do pé.

sábado, 30 de julho de 2016

Balançar

Como quem passa o dia na piscina
E sente a água ao deitar
Eu vou dormir, hoje,
Sentindo a minha volta o seu balançar.

Meu corpo, assim como minha mente, te memorizou.

sábado, 16 de julho de 2016

Novidade

Em apenas uma semana
Você despertou em mim
Sensações que em vinte anos
Ninguém nunca conseguiu.

E foi ali
Num sorriso bobo
E num toque nada inocente
Que você me ganhou.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Decente

Vou sair com um cara que presta
Vou usar uma lingerie linda
Que ele nem vai ver
E uma saia curta
Que você arrancaria na primeira hora.

Tô dando uma chance
Pra ele
Pra mim
Pra um futuro decente.
E tá bacana assim.

domingo, 12 de junho de 2016

Favor

Preciso pedir uma coisa a você. É que eu não tenho dormido direito, sabe, e isso é algo bastante grave quando se trata de mim. Geralmente, a coisa que eu mais faço na vida é dormir, então quando algo me tira o sono, é sério. Então voltamos a: preciso te pedir um favor. Você sabe que é com você que eu estou falando. Não precisa disfarçar, já tá na cara de todo mundo que metade de tudo o que eu escrevo tem um pouquinho de você. Pois bem, atenção. Não faz muito tempo que você me perguntou o motivo de ser tão absurda a ideia de eu te chamar pra sair, pra gente botar o papo em dia, e eu não soube te responder. O fato é: eu sabia. Eu só não tive coragem de falar em voz alta, como eu não tenho coragem de te falar quase tudo que eu escrevo. Não tenho o álcool pra me ajudar, como você. Ele não me dá ânimo nenhum. E o motivo é simples: eu tenho pavor de ouvir um não seu. Covarde, eu sei, mas eu não me sinto capaz de arriscar receber uma negativa sua. Já recebi uma vez, e foi horrível. Você não deve nem lembrar, eu acho. Porque ao contrário de você, sou previsível obviamente aceitaria qualquer sugestão  Pois bem, diante disso, cabe a mim um pedido: chama você. Por favor, como um presente de aniversário (ao qual você nem fez questão de comparecer, aliás), me chama pra gente bater um papo. A gente come alguma coisa, bebe alguma coisa, anda em algum lugar, vê alguma coisa, não sei. Eu só sei que, enquanto os nossos pingos não estiverem nos respectivos is, essa minha insônia vai permanecer. E pra ser bem sincera, me apavora ficar sem dormir. Eu só quero entender um pouco tudo, apagar da cabeça as zilhões de perguntas que eu tenho, esclarecer todos os gatos que estão escondidos. Só isso. Prometo que não vai doer, não vai ter drama, não vai ter stress. É só pra eu poder voltar a dormir e a te encarar sem ficar louca. Tô te pedindo, bem do fundo do peito, por favor... eu sou acessível. Chama de qualquer jeito, pra qualquer coisa. A gente arranja um horário e resolve tudo. Só... chama. Se não por favor, que seja por culpa, por remorso, por qualquer motivo. Mas você me deve essa.

Fossa

Há seis meses, exatamente,
Você me acordou de uma fossa por outro.
E hoje, que a fossa é dupla,
E é por você,
De quem é essa tarefa?

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Fome

Tenho fome da gente
Queria viver só disso
Enquanto não dá
Alimento-me com as suas palavras.

Serve um aperitivo pra mim?

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Lista

1 - não tenho coragem de postar na rede que não deve ser mencionada, mas sou maria-vai-com-as-outras e acabei sentindo a necessidade escrever uma lista, de qualquer jeito.
2 - minha primeira lembrança é de estar na sala com meus pais perguntando quando era meu aniversário (deve ser de três anos, acho). Meus pais não lembram desse dia específico, porque não teve nada demais, de fato. Mas eu tenho a imagem clara na mente. De antes disso só sei coisas que me contaram ou mostraram em fotografias ou vídeos.
3 - Eu sou uma das pessoas que mais amam aniversário neste mundinho. Comemorei o de 19 em sete dias diferentes.
4 - Sempre me dou o primeiro pedaço de bolo.
5 - Sou apaixonada por doce, mas bem doce mesmo, daqueles enjoativos e engordativos. Se for saudável ou tiver côco, a maior chance é de eu não comer.
6 - Não como nada naturalmente verde.
7 - As exceções para a regra acima são uva e azeitona.
8 - Eu gosto bastante de passas. Posso comer um pote inteiro de passas como lanche, e ficar feliz com isso.
9 - O fato acima também vale para couve-flor (mas no almoço ou jantar, em vez de lanche).
10 - Tenho paladar de criança.
11 - Minha pedida em fast foods é qualquer hambúrguer do menu, só que eu peço pra tirar tudo exceto a carne e o queijo.
12 - Eu poderia viver só de batata frita, se isso não fosse me matar.
13 - Tenho tantos fatos sobre comida por causa do meu signo, touro.
14 - Eu culpo astrologia por grande parte dos meus problemas.
15 - O fato acima não me impede de tentar consertá-los ou mudá-los. Eu só gosto de poder entender a origem deles antes de resolver.
16 - Eu adoro falar sobre mim. Poderia fazer esta lista eternamente (inclusive meu plano é editar este post sempre que eu lembrar de um fato).
17 - Tenho medo de as pessoas criarem rancor de mim exatamente por eu nunca calar a boca.
18 - Desde pequena, tenho mania de perseguição. Tem uma voz dentro de mim que diz que todo mundo me odeia e só esconde isso por obrigação.
19 - Eu gosto muito de agradar e ajudar as pessoas, e isso às vezes acaba parecendo puxassaquismo.
20 - Sou obcecada com ter notas altas desde que eu me entendo por gente.
21 - Fiz curso técnico de turismo simplesmente porque minha mãe "mandou", mas acabou sendo uma experiência ótima pra mim
22 - Eu não sei tomar decisões.
23 - Até mês passado, eu usava o queridíssimo método de par ou ímpar pra me ajudar delas, mas eu descobri recentemente que ele é parcial (2/3 de chances de dar par) e tive que abandonar o método.
24 - Agora eu uso o de pedra, papel e tesoura.
25 - Não faço ideia do que vou ser quando "crescer". Curso jornalismo mas não me imagino fazendo nada no futuro.
26 - A única imagem que eu tenho de desejo pro futuro, na verdade, são meus dois filhos. Eduardo dois anos mais velho que Alice. Não imagino nem um marido, só as crianças mesmo.
27 - Escolhi esses nomes por causa de coisas ou pessoas das quais já fui fã.
28 - Eu sou muito fã de muita coisa. Não sei gostar pouco, fico apaixonada muito facilmente.
29 - Me encantar é fácil. É só ser gentil comigo que eu já começo a contar pra todo mundo o quanto você é ótima pessoa.
30 - Me apego fácil a pessoas, memórias, lugares, objetos, basicamente a tudo.
31 - Nostalgia é o sentimento que me afeta com mais força. Até a que não é minha. Se eu vejo uma retrospectiva de um programa ao qual eu nunca assisti, por exemplo, e os atores estão emocionados contando as experiências, eu sinto a saudade deles também.
32 - Eu choro. Muito. Por tudo.
33 - Sou o maior clichê de menininha que esse mundo já viu (e talvez outros mundos também).
34 - Nunca namorei e, apesar de eu jurar de pé junto que não faço questão, sou super curiosa pra saber qual é a sensação (mas só por dez minutinhos).
35 - A primeira vez que chorei por um menino foi aos 16 anos, e eu me achei super velha pra ser a primeira vez disso.
36 - Depois disso, só chorei mais uma vez por esse motivo, e foi uma cena bem dramática que envolveu eu jogada no chão do banheiro de casa alheia com uma amiga me consolando.
37 - Eu tenho vontade de escrever um livro sobre a minha história com o menino em questão. Tenho o prólogo e o primeiro capítulo prontos.
38 - Tenho, aliás, vários capítulos de vários projetos prontos. Empaco em todos.
39 - Eu acho que empaco por medo de terminar e descobrir que não tenho talento na coisa que eu mais amo.
40 - Eu não conto quando faço mudanças. As pessoas só descobrem quando me vêem.
41 - Cortei 40cm de cabelo em maio de 2015, no aniversário de 4 anos da minha festa de 15, e ainda estou com o cabelo guardado para doar. Não contei a ninguém quando cortei.
42 - Fiz as minhas primeiras cinco (e por enquanto, únicas) tatuagens no mesmo dia, em fevereiro de 2016. Também não contei para ninguém.
43 - Já quero fazer mais quatro tatuagens, e tenho o desenho delas, mas não sei ainda em que partes do corpo.
44 - Não gosto de várias coisas em mim, mas me sinto muito poderosa quando me olho no espelho vestindo lingerie.
45 - Adoro ouvir que estou bonita, mesmo isso sendo muito fútil, porque eu não acho que as pessoas pensem assim, no geral.
46 - Eu queria muito, de verdade, ser uma princesa. Ainda tenho um fiozinho de esperança do Príncipe Harry me descobrir na multidão.
47 - Odeio multidões.
48 - Não gosto de praia, mas amo passear de barco.
49 - A primeira vez que eu andei de avião foi ano passado, indo a Curitiba conhecer amigos virtuais.
50 - Nunca andei de avião com alguém mais de um ano mais velho que eu, nem ninguém da minha família.
51 - Amei voar.
52 - Uma vez eu perdi um intercâmbio para Londres.
53 - Sempre quis fazer intercâmbio.
54 - Ainda penso em, um dia, morar em Los Angeles.
55 - Tenho medo de Los Angeles me decepcionar.
56 - Tenho medo, também, de ser uma mãe ruim.
57 - Amo crianças. Muito. Babo em todas as que eu vejo na rua.
58 - Meu cachorro veio pra mim numa sexta-feira santa. Ele é o ser mais puro do universo e eu sou totalmente apaixonada por ele. Só de pensar em um dia ele não estar mais comigo, eu choro.
59 - Gosto muito de animais, mas não quero ter nenhum outro.
60 - Posso abrir mão (e provavelmente vou) dessa vontade.
61 - Quero muito mesmo de verdade do fundo do coração ser rica e poder aproveitar tudo o que eu vejo de maravilhoso no mundo.
62 - Não dou muita sorte na vida. As únicas coisas que eu já ganhei em sorteios foram uma cabeça de porco e um cooler cheio de cerveja (ambos quando eu tinha menos de, sei lá, doze anos).
63 - Eu sou navegadora de rali de regularidade. Morro de medo de adrenalina, mas o rali é exceção.
64 - Minha primeira montanha-russa foi aos 17 anos, a maior de madeira da América Latina, logo de cara.
65 - Sempre quis ir ao Hopi Hari quando era pequena. Realizei o sonho na viagem de conclusão do curso técnico.
66 - Já viajei "sozinha" para quatro lugares (Curitiba, São Paulo, Búzios e Rio das Ostras).
67 - Amo ficar em hotéis/pousadas. Amo tudo. Desde não ter que fazer nada dos serviços de limpeza até os cafés da manhã que são sempre maravilhosos.
68 - Quando eu via Gilmore Girls, queria ser dona de pousada.
69 - Eu vejo muitas séries ativas.
70 - Dedico grande parte dos meus fins de semana a atualizar minhas séries.
71 - Tenho mais de 300 livros e esse é um dos meus hobbies favoritos (não só lê-los, mas comprá-los também).
72 - Como eu moro muito longe de tudo, sair de casa pra mim é um sacrifício. Toda vez que eu preciso fazer alguma coisa, leva vários momentos de auto-convencimento.
73 - Sou louca pra morar sozinha logo.
74 - Minha primeira grande compra foi uma cama de casal - que eu queria desde os 14 anos e minha mãe sempre disse que jamais me daria.
75 - Eu sou muito mão de vaca.
76 - Eu amo dormir. Posso dormir o tempo inteiro. Sinto muita falta de dormir quando não consigo.
77 - Às vezes, eu tenho muito sono e não consigo apagar de jeito nenhum. Aí eu tomo pasalix, um remédio natural pra ansiedade e insônia.
78 - Sou péssima em lembrar de tomar remédio se ele precisar ser tomado mais de uma vez ao dia. Quando é uma só, o despertador dá conta.
79 - O barulho do meu despertador é uma das poucas coisas que eu odeio. Sempre tento desligar um minuto antes.
80 - Todos os meus despertadores são para horas quebradas. Acordo às 5h07 de segunda a quinta e às 6h23 sexta-feira.
81 - Eu sou bastante organizada e controladora com as coisas em relação a coisas com as quais me comprometo.
82 - Sou fã de quem lida comigo todos os dias, porque eu não aguentaria.
83 - Eu digo que sou de humanas mas na verdade me dou bastante bem com matemática e física.
84 - Eu acho que me tornei outra pessoa de 2013 pra cá, e amo as mudanças pelas quais passei. Me sinto mais feliz comigo e com tudo ao meu redor, mais mente aberta e uma pessoa melhor no geral.
85 - Sigo a filosofia da energia: evito ao máximo emanar energia ruim pra não receber ela de volta.
86 - Não sei mais quais são minhas crenças, mas rezo todo dia.
87 - Acho que deveria existir uma religião que fosse apenas "faça o bem".
88 - Raramente sigo meus próprios conselhos, apesar de as pessoas que os seguem dizerem que eles funcionam.
89 - Quando estou em uma situação complicada, tento me ver como se estivesse lendo um livro sobre mim e tentar pensar o que eu acharia da personagem e a decisão que ela precisa tomar.
90 - Suspeito de verdade que a minha missão no mundo seja ser coadjuvante de várias histórias, e não necessariamente protagonista de alguma. Às vezes eu fico em paz com isso, às vezes não.
91 - Tenho muita vontade de fazer terapia, mas nunca marco a primeira sessão.
92 - Eu geralmente pesquiso no Google a diferença entre sessão e seção. É uma das poucas regras que eu confundo quase toda vez.
93 - Sou a chata da gramática.
94 - Tenho vontade de ser editora de texto, mas não sei se aguentaria viver só disso.
95 - Eu amo cantar e já gravei uma música em estúdio. O problema é que eu sou péssima nisso.
96 - Eu já sofri de perda de memória recente, no dia em que sofri um acidente de carro.
97 - No geral, tenho uma memória boa.
98 - Lembro detalhes que eu não gostaria de lembrar sobre pessoas que já se afastaram de mim, porque várias vezes eles me deixam triste.
99 - O lado direito do meu corpo é muito mais dolorido, no geral, do que o lado esquerdo. Inclusive tenho um problema crônico no olho direito de dor absurda que nenhum médico nunca conseguiu diagnosticar.
100 - Eu tenho uma pressão ocular sensacional, seja lá o que isso significar.
101 - Geralmente, eu sou super adiantada e horas esperando pelas pessoas.
102 - Eu nasci de oito meses e minha pressa começou aí.
103 - Eu amo o clima de dia dos namorados (ninguém disse que eu faço sentido) e de uns anos pra cá tenho gostado cada vez menos do natal.

Exausta

Tô tão cansada, ultimamente... sei lá, não tenho mais saco pra essa brincadeira de ficar tentando entender quem faz questão de agir exatamente pra me confundir. Tirei meus filtros, não ligando pra quem se incomode com isso. Tô diferente, sim, mas é tudo resultado do cansaço. E, pra ser bem sincera, espero que essa mudança fique mesmo quando o cansaço for embora. Gostei dessa eu que não se importa de falar o que pensa.
Só espero que o filtro não volte.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Escala

Você é um problemão meu
Mas é engraçado como,
Em comparação a outros problemas,
Você parece quase a solução.

domingo, 29 de maio de 2016

sábado, 28 de maio de 2016

Clarice

É esquisito como foi rápida essa aproximação, sabe? Em um momento em que eu tinha certeza de não precisar de mais nada na vida, você apareceu me mostrando que eu estava perdendo um monte de coisa ao não te ter por perto. A gente demorou um pouquinho pra perceber a quantidade de semelhanças entre nós mas, no segundo em que elas foram notadas, a mudança aconteceu quase do dia pra noite. De repente, você se tornou uma das pessoas em que eu mais confio nesse mundo. Você me compreende em um nível que eu jamais pensei que seria possível, estando há - relativamente - tão pouco tempo perto de mim. Não sinto uma ligação forte assim com gente que está na minha vida há mais de dez anos, sabe? E tenho até um pouquinho de medo de admitir o quanto me apeguei a sua amizade, a sua presença acolhedora, que sempre faz parecer que - de uma forma ou de outra, não importa quanto tempo demore - as coisas vão dar certo.
Não demonstro isso pra você quase nunca (me desculpa por isso, aliás), mas é parte desse medo que eu falei. Se eu admitir em voz alta, vai doer ainda mais a possibilidade de você resolver se afastar. Eu tenho esse carma, sabe? As pessoas decidem se afastar de mim e eu fico sem entender exatamente o que aconteceu. E isso já aconteceu com a gente, mas de outro ângulo. Abandonaram a nós duas. E não vou mentir: doeu. Doeu pra caramba e ainda dói quando os resquícios do desleixo são esfregados bem em cima das nossas feridas abertas. Mas, céus, como é mais tranquilo passar por isso tendo alguém em quem me apoiar. Espero que eu sirva tanto de apoio para você como você tem estado ao meu lado, apesar de eu duvidar ter essa capacidade toda de tranquilizar alguém que só a sua voz já possui. Espero que você saiba que, a qualquer momento, pode chamar que eu vou aparecer. Espero que você já tenha percebido a importância e o lugar de destaque que conquistou na minha vida.
Quero te agradecer, mas não sei como. Por cada momento de risada e por cada abraço, por cada lágrima compartilhada e seca, por cada minuto de companhia em tantas situações diferentes. Por entender e sentir, também, as coisas mais esquisitas que se passam dentro de mim. Por não revirar os olhos para os meus problemas bobos que me fazem parecer uma adolescente de quinze anos. Por confiar em mim e mostrar tanto afeto, apesar de eu raramente achar que mereço. Por ser um sorriso certo, uma presença garantida. Por ir longe por mim, como raramente as pessoas vão, como eu nem espero mais que qualquer um vá. Por me surpreender positivamente sempre. Por não me julgar. Por ser quem você é (mesmo que seu nome, às vezes, por algumas brincadeiras, mude bastante). Por se encaixar direitinho nos buracos que a vida fez em mim, e por não se importar com eles.
Mais do que tudo isso, quero que você saiba, bem no fundo do seu coração, que eu tô aqui. Pra tudo. Não só pra retribuir tudo o que você fez e faz por mim - que é muito - mas porque você merece. Céus, menina, você merece o mundo todinho! Queria ser capaz de te guardar em um potinho e te proteger de todo o mal que insiste em ficar te atingindo. Enquanto isso não é possível, deixa eu te dar apoio? Posso não ser muito útil em vários momentos, mas prometo que te ajudo a segurar a barra - ou os furadores de fila - pelo tempo que for necessário.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Donas

Sou das palavras
Pertenço a elas
Elas fazem de mim
O que quiserem.

Sou escrava das letras
Que me iludem
E me forçam a trabalhar
E a viver.

Sou boba pelas sílabas
Que saem de lábios
E de dedos
E entram na minha pele.

Sem
Nem
Pedir
Licença.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Conselho

Queria voltar ao ano 2000 e dizer pra eu daquela época que a nossa paixonite ia crescer e, 15 anos depois, voltar a ter contato com a gente. Mas só como amigo, mesmo, porque ele também gosta de meninos.
Queria voltar a 2001 e contar pra Paula de 5 anos que o filho do amigo dos nossos pais realmente ficou bem gato com o tempo, mas que ela nem precisa se desgastar pensando nele porque - além de não querer nada com a gente - ele se mudou pra Brasília.
Queria voltar a 2003 e avisar a minha versão daquela época que a paixão pelo menino que ela acabou de acontecer até vai durar muito, mesmo, mas que em nenhum dos sete anos de existência dela, vai dar em alguma coisa.
Queria voltar a 2011 e relatar cada acontecimento relacionado ao objeto de afeto da Paula debutante. Como ele não vale a pena e só dá dor de cabeça.
Queria que a Paula de aqui a alguns anos voltasse, rapidinho, em 2016, só pra me contar o que acontece com essa história embolada na qual a eu de 2014 se meteu.
Quem sabe.

Âncora

Ela é minha âncora. Não importa por onde ou em que sentido, é sempre por ela que procuro para me manter firme à terra. Ela me guia e me conduz como se soubesse exatamente o que fazer a todo momento, e eu desconfio que ela saiba, de fato. Houve um tempo em que eu não tinha certeza de nada além do sorriso dela ao meu lado todas as manhãs, e foi essa certeza que me manteve acima da superfície enquanto tudo ao meu redor parecia afundar em um oceano de desespero.
Lembro-me bem da primeira vez em que ela salvou a minha vida – em muitos sentidos diferentes. Eu estava embriagado, sentado ao balcão de um bar, xingando a tudo e a todos que me cercavam. Nem mesmo bartender tinha mais paciência comigo, àquela altura. Ele simplesmente revirava os olhos e enchia meu copo com mais uma dose a cada vez que eu pedia – já tinha desistido de tentar me convencer a parar antes de alcançar meu limite. Estava claro para qualquer um que eu já o tinha alcançado – e ultrapassado – há muito tempo.
Ela estava passando pelo lado de fora do estabelecimento quando eu a vi pela primeira vez. Os cabelos vermelhos combinavam com o vestido de mangas compridas, quente demais para aquele dia de verão. O sol batia no rosto dela, e só então eu percebi que já tinha amanhecido. Eu já a tinha visto em algum lugar. Meus sonhos, cogitei, mas acreditava ser mais do que isso. Percebi que estava certo quando ela retribuiu meu olhar e, ao me reconhecer, resolveu entrar no bar. Fiquei consciente, de repente, do meu estado. Eu não estava apresentável, provavelmente fedia a cerveja e sem dúvidas tinha uma expressão de derrota no olhar.
- Pedro? – Ela se aproximou, e a voz dela era o único som que não me fazia querer bater a cabeça na parede repetidamente até o mundo ao meu redor se calar. – Achei que você estivesse com os meninos... Eu estava indo para lá, para o aniversário do Gabriel. Você não vem?
Eu não me lembrava do aniversário do Gabriel. Arrisco até dizer que, naquele momento, eu não lembrava nem quem era o Gabriel, apesar de conhecê-lo, basicamente, desde que nasci, e de ele ser um dos meus amigos mais próximos. Mas o Gabriel entenderia se eu não aparecesse. Ele sabia como a minha vida estava de cabeça para baixo. Com tudo de pernas para o ar. Eu estava no fundo do poço, e se alguém tinha a obrigação de compreender isso, esse alguém era meu melhor amigo.
- Eu não estou muito em condições de ir. – Ri da minha própria desgraça, menos consciente do quanto eu a estaria assustando. Ainda não lembrava o nome dela e nem de onde a conhecia, mas se ela era amiga do Gabriel, isso já deveria bastar para mim.
- Eu percebi. – Ela ruborizou. Eu achava que as pessoas só faziam isso em livros, filmes e histórias em quadrinhos. Nunca tinha conhecido ninguém que ruborizasse na vida real. Quis guardar aquela imagem na memória, e lembro que fiquei morrendo de medo do álcool apagá-la. – Aliás, você está com uma cara péssima, mesmo. Mas eu sei o que pode ajudar. Vem comigo.
Não sei o que a levou a fazer aquilo, mas sou grato até hoje por ela ter feito. Em um ímpeto, ela pagou minha conta (com uma gorjeta generosa ao bartender, eu reparei, o que o fez agradecer bastante), me puxou pelo braço e me tirou do bar escuro. A luz do sol machucou meus olhos e ela riu da careta que eu fiz.
- Pra onde você vai me levar? – Consegui perguntar, mesmo atormentado pelo excesso de luz.
- Se eu te contar, perde a graça.
Quando dei por mim, estávamos juntos em um carro, ela ao volante e eu com a cabeça apoiada na janela do passageiro. Ela já estava quase estacionando ao lado de um campo extenso de margaridas que eu nunca nem soube que existia. As flores pareciam gritar pelo contraste do amarelo com o azul do céu. Eu não via nada além da natureza, eu não sentia nada além da paz que o lugar transmitia.
E, claro, eu a via. Ela, em todo o esplendor de seu vestido vermelho. Ela me puxou pelo braço e me guiou até uma clareira, onde sentamos e conversamos sobre a vida. Ela fez tudo parecer mais fácil. Ela fez com que eu visse sentido, visse uma saída de todos os meus problemas. Ela me apresentou a luz no fim do túnel. Uma luz fluorescente...

Foi quando eu percebi que ela não existia. Nada daquilo era real. Abri os olhos lentamente, a cabeça latejando por causa do excesso de bebida. A luz fluorescente era uma lâmpada. Demorei a entender o ambiente ao meu redor. Garrafas de bebida e um bartender impaciente. Tinha sido tudo um sonho. Minha âncora não era real, e nada me impedia mais de me afogar no oceano de desespero que me rodeava. Dei um último suspiro e deixei-me afundar.

domingo, 15 de maio de 2016

A()gente

Tem uma diferença muito grande - e não apenas a semântica e a linguística - entre a gente junto e a gente separado. E não sou nem eu quem está dizendo isso, que já fique claro desde o princípio. É algo que me disseram e que eu não consigo mais tirar da cabeça. A gente tem uma energia palpável, aparentemente. Há mais de um ano, antes de isso tudo virar a bagunça que é hoje em dia, um certo casal me observava conversando com outro moço. Eu tinha interesse, ele também, e nós dois sabíamos, mas isso não ficava claro pra quem olhava de fora. Esse casal, inclusive, chegou a comentar o quanto parecia que eu queria sair correndo dali na primeira oportunidade que surgisse. Eu e o moço não criamos um clima no ar, sabe? Parecíamos apenas duas pessoas juntando o útil ao agradável. A gente separado não é uma cena inspiradora de se ver.
Esse casal, no entanto, já presenciou a gente junto, também. Eles estavam presentes em vários dos nossos momentos de recaída... E sabe o que é curioso? A moça que faz parte dele sempre relata que o ambiente muda quando a gente tá junto. Surge uma entidade no ar... Surge um aspecto palpável e claro de que a gente tá exatamente onde deveria, e acompanhado de quem deveria.
Como faz truques, esse universo.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Saudade

Ela é uma menininha minúscula com só dois dentes aparentes na parte da frente da boca e o cabelo caindo em pequenas cascatas de cachinhos marrons ao redor do rosto. Os olhinhos verdes e curiosos vasculham o ambiente em busca de algo no qual focar, alguma coisa que valha a pena. Os pés desajeitados traçam caminhos confusos pelo asfalto, mas as mãozinhas firmes se mantêm cerradas por medo de ir longe demais. A boca não deixa de esboçar aquele sorrisinho lindo nem por um segundo sequer. A vontade que eu tenho é de abraçá-la e dizer que eu vim do futuro, de 18 anos a frente, e que vai ficar tudo bem. Pedir que ela aproveite cada segundo e, por favor, se liberte um pouquinho mais. As amarras, com o tempo, só se fortalecem.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Encontro

Nunca acreditei em nenhuma dessas teorias sobre sonhos... As que dizem que quando sonhamos com alguém é porque esse alguém também está sonhando conosco, então, sempre achei a maior besteira. Até porque, se funcionasse assim, metade das celebridades de Hollywood já teria sonhado comigo pelo menos uma vez. Concluí desde cedo que era tudo palhaçada, história para boi dormir e menina apaixonada se iludir. Só que essa noite eu tenho certeza que a gente se encontrou lá no plano astral dos sonhos. Certeza absoluta, mesmo. Ok que não foi tão diferente de qualquer sonho comum que eu tenho, mas seu abraço era tão mais real, suas palavras tão... Tão suas... Não soaram como algo que eu inventaria na minha mente. E, mais do que isso tudo, minha cabeça jamais faria você desviar o rosto de um beijo meu. Isso só quem faz é a sua consciência, desde sempre. Esse é um dos principais motivos pra eu estar tão convicta de que você (acompanhado pela sua consciência, infelizmente) foi até o meu sonho pra me ver. Pra dizer tudo o que eu queria e não queria ouvir. Pra me segurar nos seus braços uma vez mais, porque já tem tempo pra caramba que a gente nem se toca, e só eu sei (ou talvez você saiba, também) o quanto isso faz falta.
Eu provavelmente estou me iludindo e me deixando cair na mesma armadilha da qual sempre fiz piada... Mas fala sério, como é bom achar que a gente se viu um pouquinho mais, mesmo...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Bom

Ele é um bom garoto,
Disseram.
Diferentemente de você,
Disseram.

E esse era exatamente o problema.

Dividida

É tão esquisito
Que em mim
Haja tantas
Sensações conflitantes.

Um frio na barriga
Por um rapaz recente
Some em um segundo
Se o moço antigo ressurge.

E eu não quero apego
Com ninguém.
Não quero cobrança
Não quero trabalho.

Mas, ó céus,
Como amo carinho
Com um ou com outro
Seria tão bom...

terça-feira, 3 de maio de 2016

Cacos

Eu quebrei
Meu próprio
Coração.
E o perdi.

Sem querer,
Fui deixando caquinhos
Em ruas
Em esquinas
Em mãos.

E agora
Não sobrou
Nada
Pra mim.

domingo, 1 de maio de 2016

Crua

Custo a acreditar que as pessoas realmente gostem de mim, sabe? E nem digo de modo romântico, esse nem entra na discussão. É no geral, mesmo. Uma ou outra me convencem de que eu realmente agrado, mas a sensação constante é a de que eu estou incomodando, de que sempre falo as coisas erradas nas horas erradas, de que estou invadindo, que não me encaixo, que nunca deveria estar ali. Eu faço de tudo por todos porque isso me deixa feliz, me faz sentir parte de algo, mas acho muito esquisito quando alguém faz um esforcinho por mim também. Me surpreende o fato de alguém dar mais do que um passo pra me agradar. Eu não cobro porque eu tenho medo de descobrir que não ia receber de qualquer jeito. Prefiro não confirmar as minhas suspeitas. É por isso que custo a acreditar que realmente gostem de mim. Eu mesma raramente gosto.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Pactos

Se meu ônibus não passar
Eu ando
Até o próximo ponto.

Se os minutos forem número par
Eu janto
Antes de tomar banho.

Se a gente, por acaso, se encontrar,
Eu resisto
Ao desejo e aos impulsos.

Vários acordos
Que eu faço comigo
E quebro.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Enganação

Já criei a mania
de achar que
o que você escreve
é pra mim.

É bom pro ego.

Corda-bamba

Eu assistiria
a quantas aulas de circo
- ou de futebol -
fossem necessárias
para aprender a driblar
esse vão que existe
entre nós.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Perturbação

Tem um monte de fantasmas na minha cabeça e todos eles me fazem querer deitar num cantinho e chorar o dia inteiro e eu não sei mais como lidar com nada porque sinceramente nada mais tem propósito. E eu sei que a culpa não é das pessoas de quem eu gosto - nem das pessoas que gostam de mim - e me dói pensar que estou fazendo mal a qualquer um deles. Só que eu não sei mais controlar nada. Eu amo aniversários desde que me entendo por gente mas o meu é daqui a uns dias e me dá úlcera só de pensar em ver gente e ter que fingir que tá tudo bem - mais do que já faço todos os dias. Não tem um motivo sequer pra esse desequilíbrio louco na minha cabeça, mas ele existe e eu não sei lidar com ele sem querer me esconder do mundo e me isolar e me guardar num potinho até alguém ter descoberto a cura. E eu não quero incomodar e eu não quero dar trabalho e eu não quero ser um peso e eu não quero levar energias negativas. Eu só quero dormir.
Eu
Quero
Paz.

domingo, 24 de abril de 2016

Egoísmo

Sempre fui daquelas
Que fazem de tudo
Pela felicidade das pessoas.

Notei, não tem muito tempo
Que eu, surpreendentemente,
Sou uma pessoa, também.

Comecei, então,
A lutar pela minha alegria
Como sempre lutei pela alheia.

Que libertador foi
Saber que posso ser feliz
Por mim mesma.

Gordinho

Você veio pra mim (ou melhor, eu fui até você) em uma sexta-feira santa há vários anos, o melhor presente de Páscoa que eu poderia ganhar. Eu já te queria e babava por você desde bem antes de você nascer, sabe? Corria atrás de notícias suas enquanto você ainda era uma sementinha. Seu nome era baseado em um desenho infantil, e a decisão unânime aqui de casa foi mudar pra algo mais a nossa cara. Foi amor à primeira vista naquele dia. Eu queria te enroscar em mim e não te deixar ir embora nunca mais. Eu ainda quero isso. Tinha um medo, sabe, de não saber fazer direito essa coisa de ser dona. Cada choro seu era (e ainda é) um aperto no meu coração. Mas você é perfeito e me entende tão bem... E nasceu tanto pra ser meu que veio nos moldes perfeitos pra conquistar não apenas a mim, mas a qualquer um que te veja. Cresceu gordinho, peludo, carinhoso e preguiçoso. Prefere passar a tarde esparramado na cama comigo do que qualquer outra coisa, e eu te amo tanto por isso (e por mil outros motivos).
Você é a coisa mais linda que já existiu nesse mundo, e tudo o que eu quero é a sua felicidade. Quando você vem até mim e só deita, quietinho, eu me sinto completa, sabe? Te deixar de manhã é a parte mais triste do meu dia, mas chegar em casa pro seu rabo balançando compensa tudo.
Eu amo tanto você.
Tanto.
E por mais que você não fale a minha língua, eu sei muito bem que você me entende mais do que qualquer ser humano nesse mundo. Você me consola, me alegra e me acompanha a qualquer momento.
Você é eterno. Tem que ser.

Nick

Sou completamente
Apaixonada por você.
Você é o amor
Da minha vida.

Cada movimento seu
Me encanta
Aquece meu coração.

Você é lindo
A imagem mais linda
Que eu já vi
E que eu guardo.

Sou sua
Completamente.
E eu te amo
Tanto.

Obrigada por me escolher
E por ser o melhor companheiro
Que existe nesse mundo.

Obrigada pelas vezes
Em que você deita ao meu lado
E apoia a cabeça em mim
E eu sei que tudo
Vai dar certo.

Te devo tudo.
Te entrego tudo.
Você é maravilhoso.
O melhor cachorro do mundo.

Louca

Sou louca
Maluca
Insana
Perdida.

Te quero
Não quero mais
Não sei o que quero
Não quero nada.

Sou obsessiva
Até mudar de ideia.
Louca.
Cuidado.

Perdoa a vênus em gêmeos
E, por favor,
Não desiste de mim.

sábado, 23 de abril de 2016

Monotemática

Peço desculpas, desde já,
Se cismo com um tema só.
Ou melhor,
Por cismar, sempre, com um tema só.

Acontece que, igual à Clarice,
Sofro da tal da monomania.
Sinto tudo vezes mil
E preciso desabafar.

Quando algo ocupa a mente
Sei lidar botando em texto
De uma, duas, mil formas diferentes.

Não parece suficiente
Escrever uma poesia só
E largar de mão, de vez,
O assunto que me incomoda.

Escrevo pra testar
Se a ideia me abandona
E enquanto ela não o faz
Ser monotemática é a solução.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Perplexidade

Apresenta pra mim essa moça que te faz falar bonito desse jeito. Mostra pra mim o rosto, me conta o nome dela, fala sobre cada detalhe que faz dela o que ela é. Você vê, meu bem, que curiosidade é meu segundo nome, e essas suas palavras atacam de modo bem certeiro essa parte de mim. A cada coisa linda que você diz sobre ela, uma luzinha pisca no meu cérebro, querendo desesperadamente saber quem foi a gênia capaz o suficiente de te fazer querer ser de uma só. Logo você, que nunca foi de ninguém, fazendo questão de dizer que essa coisa de "amor livre" não é bem assim. Você entende meu choque, certo, meu bem? É normal eu estranhar essa sua atitude monogâmica. Apresenta pra mim a moça que inspira suas poesias. Quero tirar o chapéu pra ela. Quero parabenizá-la e agradecê-la por te fazer sentir essa emoção maravilhosa que (dizem por aí) é o amor.

Jogo

É tudo um jogo.
Cada palavra
Cada silêncio
Cada estrofe.

A gente joga junto
E se diverte
E perde o limite
Da brincadeira.

Eu jogo comigo
Fingindo não perceber
Que só te tenho
Em ilusão.

Você joga comigo
Num anônimo escancarado
Plantando dúvida
A cada ação.

Mas é tudo um jogo
E o mais triste
É que, ultimamente,
Nós dois sempre perdemos.

Que curso você fez, meu bem,
Que te ensinou tão bem
A dar esse nó de marinheiro
Na minha cabeça?

terça-feira, 19 de abril de 2016

Métrica

Minhas rimas são pobres
Como minha carteira
Não são ricas nem nobres
Não têm eira nem beira

No fundo, só acho bonito
Esse estilo de texto quebrado
Parecendo quase um rito
De palavras em tom controlado

Só gosto da pausa
Em cada uma das linhas
Preciso mesmo de causa
Se as poesias são minhas?

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Verossimilhança

Não prometo
Pra não precisar cumprir
Mas faço questão de explicar
Desde bem cedo.

Meus textos, minhas palavras
Não tem compromisso com a realidade.
Mas afinal...
Alguém - ou algo - tem?

Despertador

Acordei naquela manhã de uma forma diferente. Já estava acostumado a acordar ao lado de rostos diferentes, corpos diferentes, cheiros diferentes, vozes diferentes. Isso já era rotina. O inovador, naquele dia, era o jeito pelo qual fui acordado. Em vez de escutar o barulho usual do despertador, senti uma carícia leve no cabelo que me tirou com toda a delicadeza dos braços de Morfeu. O carinho saiu do couro cabeludo e se direcionou à minha barba, fazendo com que eu instantaneamente despertasse da forma mais agradável. Um alarme disparou em meu cérebro, para compensar o que não tinha dispadado no meu celular.
- Dormi demais? Não ouvi o despertador tocar? Tô atrasado? - Ainda não tinha aberto os olhos. Uma parte de mim ficou procurando possíveis motivos para a falha do meu pior inimigo de todas as manhãs.
- Relaxa - eu ouvi a voz dela e a noite anterior me voltou à mente. Morri de saudades, mesmo tendo-a ao meu lado. - Eu acordei uns dois minutos antes do despertador, vi o aviso de que já ia tocar piscando na tela e resolvi desligar porque ninguém merece ser alarmado com uns estrondos daqueles sem necessidade. - A voz dela ainda denunciava um resquício de preguiça, mas ela parecia bem mais acordada que eu. Abri os olhos e percebi que ela sorria pra mim ao meu lado na cama. Percebi, finalmente, que eu também estava sorrindo.
- Obrigado. - Estendi a mão para alcançar o cabelo dela, também. Ela riu de levinho quando errei a mira e quase coloquei o dedo indicador dentro do olho dela. Pegou minha mão e deu um beijo nela.
- Melhor eu ir, né? - Começou a se levantar. - Hoje só trabalho à tarde, mas se o despertador tava programado pra tão cedo, você deve ter coisas importantes pra fazer.
- Tentei puxá-la mais pra perto, mas os reflexos de recém-acordada dela eram bem mais rápidos que os meus. Ela já estava colocando de volta o vestido da noite anterior.
- Tenho, sim. - Concluí. - Mas primeiro vem cá, eu fecho pra você.
Ela deu a volta na cama e sentou na beirada para que eu pudesse subir o zíper. Ignorei a lógica e me aproximei da pele dela, sentindo o cheiro que me embalou a noite inteira. Beijei suas costas, onde o zíper deveria subir.
- Não vale. - Ela suspirou. - Assim eu não vou conseguir ir embora e te deixar em paz.
Eu não queria que ela fosse embora. Era até verdade que com ela ali, a última coisa que eu teria era paz. Mas quem disse que eu ligava?
- Mas esse, meu bem, é exatamente o objetivo.

sábado, 16 de abril de 2016

sábado, 9 de abril de 2016

Quarto

1 ano e 1/4
E reflexões num quarto
E impedir que nós dois
Fôssemos para um quarto.

Menos de quatro passos
Separavam a sanidade
Da completa loucura
Na qual eu adorava viver.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Limpa

Não faço a menor ideia
De qual tenha sido o motivo
Desse vício que me incomodava
Ter ido embora assim.

Talvez uma ligada no fofa-se
Ou uma música pop boba
Quem sabe foi ver, finalmente,
Você apaixonado por outra.

Só senti, de repente,
Um alívio invadindo meu peito
E uma sensação maravilhosa
De estar livre.
De estar limpa.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Quebra-Cabeças

Nossos corpos
Não se encaixam
Nem se completam

Na verdade
Nem parecem
Fazer sentido

Mas fala sério
Como é boa
A sensação
Deles juntos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Dieta

Nunca aprendi
E ainda não sei
Como me privar
Do que acho bom.

Por isso que eu ainda
Me entupo de chocolate,
Durmo o dia inteiro
E procuro por você...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Shipp

O mais estúpido, amiga, é que eu sei o motivo de eu insistir tanto nesta história. Não é por gostar dele especificamente. Não tem nada nele que me encante de primeira, e as manias dele me assustam. A vida dele é, basicamente, o oposto do que eu quero pra minha. Só que eu shippo a gente. Exatamente isso, shippar mesmo. Aquela linguagem de gente de 14 anos que a Globo ta tentando incorporar nos núcleos adolescentes das novelas. E eu sei que eu sou velha demais pra isso, mas é ridículo o quanto é verdade. Meu apego, eu concluí, não é com o “nós” real. É com os personagens incríveis que a gente faria. Quer dizer, vamos do início. Lá no primeiro dia de todos, ele começou me dando toda a atenção do mundo. Deixou que eu limpasse a tinta néon da minha mão nas roupas dele. Cena bem clichê, sabe? Daquelas que dá pra imaginar numa série do Boomerang (se é que o Boomerang ainda existe. Tô velha, já falei). Depois disso, veio a maldita da piadinha. “Nessa você me pegou”, eu disse, respondendo a uma pergunta complicada. Nada mais natural, certo? Até seria, se ele não tivesse respondido com o tal do “não, eu ainda não te peguei, mas calma” e saído andando rindo, como se não tivesse acabado de dizer isso. Eu sei que não existe piadinha mais idiota, mas eu já tava boba por ele, sabe? A coisa da tinta me fisgou na hora. E aí pronto, a piadinha foi aspecto número dois. Meio American Pie, talvez, mas ainda um fator shippável. Ainda nesse dia, o belo momento em que eu, apesar de morta de sono, estava louca pra provar aqueles lábios, e aí ele apareceu pedindo pra eu não dormir, me desafiando a manter os olhos abertos. “Porque se você fechar”, ele disse, “eu não vou conseguir me segurar e vou ter que te dar um beijo”. Pronto, finalmente, eu pensei. Fechei os olhos imediatamente, fazendo meu máximo para não apertá-los de tão ansiosa que estava. Quer coisa mais sessão da tarde?? E, socorro, amiga, que beijo bom. Daquele momento até o final do dia foi tudo uma cena de Malhação. A gente ali em paz naquela sala, fingindo que o mundo era nosso e que aquele dia não acabaria nunca.
Mas acabou. E, infelizmente, o casal protagonista de tantas histórias não acabou junto. Eu tô te falando que nossos eu-líricos são shippáveis. Você duvida? Ele me levou pra ver o pôr-do-sol em um mirante à beira da praia. Esse foi o nosso tal de primeiro encontro. Digno de comédia romântica clássica, eu sei. Começou a tocar Garotos, do Leoni, no segundo em que a gente se beijou, caramba! Vai dizer que isso não é coisa de filme?! Um tempinho depois, num jogo de eu nunca, surge o “eu nunca namorei” “eu também não” “ai meu Deus como não, você é velho!” “nunca gostei de ninguém o suficiente pra isso”, ele diz e sorri maliciosamente pra mim. E o meu sorriso em resposta é tudo, menos malicioso. A gente se encontrou depois, mal se falou e ele só faltou se morder de ciúmes porque eu ia pra boate em seguida. Fez eu me achar especial. Aí sumiu e, de repente, veio a d-r-sem-existir-a-tal-da-r. Porque discutir relação sem ter relação é muito coisa de personagem de livro, a gente ia ter que fazer isso em algum momento. O drama da cena ainda aumentou comigo chorando no banheiro e ele lá, na cozinha com outra. Season finale de alguma série adolescente, com certeza. Ou mid-finale, talvez. O tempo passa e (não, um dia não vem na porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão) a gente vai e volta. Ninguém quer realmente se entregar, mas ninguém consegue resistir. E aí a gente se toca e já era o mundo. Casal de mocinhos, não disse? Vem discussão sobre o quanto eu sou boa demais pra ele e o quanto aquilo é errado. Tem coisa mais certa (e mais plot) do que discussão sobre o quanto algo é errado? Não dá pra não shippar! Lutar contra as expectativas é um dos principais fatores que fazem as pessoas torcerem por um casal. Eu sei, porque eu sempre torço. A história continua e, em um dia muito importante pra mim, ele é o único a ligar. Me colocou num pedestal e mais uma vez me disse o quão incrível eu era. Me confessou que escrevia poesia. Fudeu tudo. Como não querer que a mocinha fique com o cara que escreve poesia, me diz? Não dá! Prometeu me mostrar umas. Me beijou. E lá estávamos de novo, sendo o casal perfeito, mostrando pra todo mundo quanta química a gente tem. Mas são os nossos personagens, não esqueça, não somos nós de verdade. Eles (ou nós, nesse caso) ficam juntos nesse dia de novo e aí ele some. Típico dele, típico de mocinho de série que não sabe o que quer. Ou que sabe mas não gosta do que sabe. Ela cobra as poesias, ele manda e ela ama uma delas. Recita até decorar. Fica se imaginando recitando para ele em um momento íntimo, dando pequenos beijos a cada verso. Ela se perde nesses pensamentos e precisa ser lembrada que não é ele; é um personagem! Ele some de vez e ela precisa de atenção. Surge alguém do passado dela e volta a fazer parte do cast principal por um tempo. Ela fica toda boba. Se apaixona pelo moço antigo que voltou. Ele quebra as esperanças dela em pedacinho. Moço mau, ninguém gosta de você, sai dessa série, sai desse filme, não era nem pra ter se metido no meio do casal principal!
Ela está na fossa, é véspera do aniversário do moço mau. Faz um mês que eles não se vêem e ela só consegue pensar no quanto está carente. A amiga dá uma festa e ela vai, obviamente. O protagonista está lá, mais obviamente ainda. Chega com uma amiga linda, que ela a princípio acha que é mais que isso. Apesar de estar na fossa por outro, ela se incomoda com a presença da moça bonita que acompanha o mocinho da história. “Por que ele pode ter alguém e eu perdi o meu?”, ela se pergunta, “e por que ela tem que ser tão mais bonita que eu?”. A última, ela recorda, era mais bonita mas não tinha essa vibe de gente boa. Essa nova não tinha um defeito sequer. Ela respira fundo e lembra que está na fossa por outro. Passa a noite recebendo uma atenção um pouco anormal do protagonista, que já estava sumido há muitos capítulos. Prefere evitar ele porque seria injusto retribuir. Ela estava na fossa, afinal. “Mas que se dane a fossa”, é o que ela pensa ao beijá-lo de volta quando vê a boca dele se aproximando. O mocinho dela era esse, não o coadjuvante que esteve na história por dois ou três episódios. Se entrega ao seu protagonista quase completamente. Só não dá tudo de si porque tem medo das consequências. Ela é uma mocinha de livro adolescente, lembre-se. Valoriza o romance do dia seguinte. O café na cama. Eles dormem juntos sem fazer nada além disso. Quer coisa mais filme de amorzinho do que o garoto topar (e sugerir, aliás) a conchinha sem ganhar o sexo? Isso nem deveria acontecer na vida real. Mas não é a vida real, eu te lembro, é a vida dos nossos personagens, meu e dele. Ele diz as coisas mais bonitas do mundo pra ela esse dia. Diz, mais uma vez, que ela é boa demais pra ele e que tem mil motivos para isso. Que esses motivos estão escritos lá no computador dele. Ela morre de curiosidade e de orgulho por servir de inspiração. Não quer nada além disso. Faz ele prometer que vai deixar ela ver o tal texto. Ele diz que a mãe dele ia adorar ela, e ela cora. Ele a chama para mil programas, e ela sabe que ele vai esquecer tudo no dia seguinte. Mas será que ele esqueceria até do filme do Chico?

Ele esquece. Ela cobra o texto, ele disfarça enviando outra coisa qualquer. Ele some de novo. Os amigos dele, como bons coadjuvantes de comédia romântica, zoam os dois sempre que possível. As amigas dela, como boas amigas de protagonistas, tentam ajudar. Mas ninguém pode interferir. É a história dos dois, entende? Eles se encontram mais uma vez em uma festa e ignoram o clima que surge. Mal se tocam. Ela sai do lugar com a cabeça girando, pensando em como será o próximo capítulo, o próximo episódio, a próxima temporada, a sequência do livro ou do filme. Eu falei que é difícil não querer que esses personagens fiquem juntos. É difícil até pra mim, que sei que isso é só a nossa fachada. Mas você entende que é uma fachada shippável demais pra eu deixar de lado? Até os nomes se juntam fácil pra fazer nome de casal...Eu sou escritora, sou leitora, sou espectadora e sou menininha. Jamais vou conseguir não torcer para esse casal. O que é péssimo, porque esse casal nem existe de verdade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Exposição

Estão na mesa
Todas as cartas
As que eu já escrevi
E as que eu tinha nas mangas.

As palavras não ditas
E as jogadas não feitas
Todas expostas
Pra quem quiser ver.

Demorou, mas aprendi
Que esconder o jogo,
Assim como prender o verbo,
Nunca dá certo.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Prioridade

Eu tinha acabado de acordar quando o telefone tocou. Tinha tido uma daquelas noites longas e super divertidas das quais a gente se arrepende no dia seguinte. Estava tentando curar a ressaca com mais bebida quando peguei no sono, mais ou menos uma hora antes de ela ligar. Acordei ainda confuso, querendo água, e fui interrompido pelo toque e o nome dela na tela. Não falei mais que dez palavras e não esperei mais que dois minutos para vê-la na minha porta. Até por baixo da leve mancha de rímel ela estava linda. Os olhos dela, que já eram pequenos, estavam inchados e, por isso, quase não dava pra ver aquelas pupilas verde escuras que eu tanto adorava encarar. O batom vermelho começava a sumir nos lábios, notável apenas em algumas partes. O cabelo estava solto ao natural, ao contrário do que ela fez da única vez que a gente saiu oficialmente, quando estava mais comprido e caía em uma trança de lado. Uma parte de mim se perguntou se ele já tinha expressado preferência pelo cabelo solto, pra ela usá-lo assim, ou se eu tinha sido especial de alguma maneira. Ela também variou na roupa. Comigo, era sempre um vestido ou uma saia. À minha porta, ela vestia uma calça jeans detonada, uma blusa preta de renda que mostrava mais do que era saudável para minha sanidade e uma mini-bota com salto baixinho, que já a deixava mais alta que eu.
Estava linda.
Mais do que o normal.
Fiquei refletindo que tipo de babaca deixaria uma mulher daquelas sozinha, esperando por ele, em plena pedra do Arpoador. Céus, que tipo de imbecil o faria em qualquer lugar do mundo? Aquelas unhas vermelhas recém-feitas e aquele perfume que mudava sempre, quem seria burro o suficiente para dizer não àquilo? Não que eu estivesse disposto a me comprometer, e ela sabia disso, mas eu jamais deixaria de lado um momento com aquela mulher, por mais breve e passageiro que ele fosse, como deveria ser. Xinguei mentalmente a minha natureza e a dela, por não combinarem, e ofendi principalmente o mentecapto que a deixou tão abalada naquela noite. Uma pequena parcela minha, no entanto, agradeceu a ele por ter sido a razão de eu ter aquela vista maravilhosa bem à minha frente naquele momento.
Antes de puxá-la para um beijo que evoluiria para muito mais, soltei - sem nem perceber - um discreto "uau".

Substituto

Respirei fundo pela milésima vez naquele minuto e puxei o celular do bolso pelo que também parecia ser a milésima vez. Sabia o que estava prestes a fazer, e sabia que não era certo. Não me importava mais, no entanto. Corri o dedo pela agenda de contatos e parei no nome que martelava na minha cabeça. Ele não demorou a atender.
- Hanna? - Ele parecia confuso, talvez um pouco sonolento, com certeza com ressaca, apesar de já passar das oito da noite. Bêbado, talvez, concluí. - Tudo bem?
- Você tá em casa? - Disparei a falar. - Eu ia encontrar uma pessoa no Arpoador e... E ele não apareceu. E eu não sabia o que fazer e não podia voltar pra casa. É a primeira vez que o meu pai sabe que eu estava indo encontrar alguém, entende? É a primeira vez que eu achei que era importante o suficiente pra ele saber. E aí a criatura não apareceu. - Já sentia as lágrimas escorrendo, e a voz começava a ficar atrapalhada. - Eu fiquei esperando mais de uma hora em frente a pedra, mandei mensagem, liguei e nada dele. Ele realmente me deu um bolo! E eu não tô em condição nenhuma de voltar pra casa, não dá. Então eu tava andando pela orla, tentando decidir o que fazer, e eu vi a sua rua. E eu meio que reconheci o seu prédio e agora eu tô aqui em frente a ele parada que nem uma idiota, com a maquiagem borrada e arrumada demais pra não ser vista por ninguém. Quero dizer, óbvio que um monte de gente na rua tá me vendo, inclusive me vendo passar esse vexame, mas eu me arrumei mesmo, sabe? Eu achei que ele valia a pena. E eu já estava imaginando uma expressão surpresa quando ele olhasse pra mim, talvez até um "uau" e um segundinho de perplexidade, mais ou menos como você fazia, lembra? A gente nunca prestou junto, mas sempre soube se valorizar, né? A gente sempre gostou de olhar um pro outro, e eu tô precisando de alguém que goste de olhar pra mim agora. Talvez um pouco mais que olhar, não sei, mas olhar com certeza. É difícil tomar bolo, sabia? A gente se sente um lixo. - Me interrompi por um segundo, respirei e limpei as lágrimas. - E eu realmente queria saber se você tá em casa.
- Tô ligando pra portaria, sobe.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Chuva

Tem um barulho de chuva
E um cobertor quentinho
E uma cama
Que é grande demais


E eu só queria
Que você estivesse
Ocupando o espaço extra
E roubando o cobertor


E que você pudesse
Com o rosto grudado no meu
Ouvir, bem baixinho,
Que tem um barulho de chuva.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Despedida


Esta carta é um tchau. Um adeus que você provavelmente nunca saberá que existiu. Um até logo, mesmo sabendo que esse logo não vai chegar nunca. É um hasta la vista, um adiós, um bye bye e em qualquer outra língua que você preferir. Esta carta é minha maneira de dizer que finalmente dei ouvidos a todas aquelas frases de auto-ajuda que a gente vê por aí. Resolvi tomar o controle da minha própria vida. Isso mesmo. Surpresa! Você não tem mais esse controle. Finalmente, peguei pra mim o que me era de direito. Agora, meu bem, desisti. Depois de tantas vezes em que eu prometi que faria o melhor para te entender, estou fazendo o certo para ser feliz por mim. Eu diria que foi bom enquanto durou mas, sinceramente, nem durou. Nem existiu, por alguns pontos de vista. E, exatamente por isso, não tem como ter sido tão bom. Não nego, é claro, que houve momentos ótimos. Mas foram apenas isso: momentos. Coisas momentâneas passam, por definição. E chegou a hora de a gente passar. Talvez eu sinta sua falta, não vou mentir. Mas isso faz parte. Se aquele pedacinho de mim continuar chamando seu nome, eu vou resolver simplesmente pegar o controle da minha vida - que agora me pertence, veja bem - e colocar a voz no mudo. Antes disso, no entanto, vou deixar que ela diga, apenas mais uma vez… Tchau.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Tabu


Acho que esse é o problema, sabe? Eu me pego pensando naquela sua pergunta o tempo todo. Pior ainda, eu me pego pensando na minha falta de resposta lógica para ela. Afinal de contas, eu sou uma mulher do século XXI, com a cabeça super atual e nenhum tabu como os dos meus pais. Por que, afinal, eu não dormi com você? Convenhamos que aquele “porque eu não quero” que eu quase soltei não convenceria nem a você, imagine a mim mesma. É óbvio que eu queria. Que eu quero? Que eu gostaria? Não é, como você imaginou, uma questão de estar guardando para o momento certo. Deixei de procurar algo assim quando comecei a me interessar mais por sensações do que por pessoas, sabe? Viver o momento, como tantos dizem por aí. E nada seria mais vivência do momento do que ter ido com você pra sua casa e feito tudo o que passava nas nossas cabeças naquele momento. Ah, céus, como parecia uma boa ideia. Mas ao mesmo tempo, parecia a coisa mais estúpida do mundo. Aquele martelinho da caretice ficava batendo na minha cabeça. Ou seria o martelo da consciência? Eu queria saber diferenciar. Fico voltando a esses momentos o tempo todo, procurando justificativas para o sim e para o não. E suas atitudes, meu bem, só me levam à gratidão pela minha escolha. Afinal de contas, não importa o quão boa fosse nossa noite juntos… Eu tenho certeza que ia adorar ainda mais um café da manhã compartilhado depois dela. E isso, aparentemente, você não está disposto a me dar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sofá

É engraçado porque, ao contrário do que eu sempre achei, a minha tão sonhada cama de casal parece, agora, grande demais. Depois de me apertar em um sofá fino com você e descobrir que não é preciso espaço para que se tenha conforto, eu abriria mão de metade dessa cama enorme só pra ter um corpo aqui me aninhando. E o mais cômico é que, apesar de você ser a causa dessa minha mudança de pensamento, eu não faço questão nenhuma que você seja esse corpo. Aliás, até prefiro que não seja. Não quero ter que lidar com você, entende? Só com as coisas boas da vida que você me mostrou. O carinho no lugar certo, o beijo encaixado, as palavras tão bem pronunciadas, as promessas que nós dois já sabíamos que eram vãs. Quero esse pacote completo, mas não quero o acompanhamento que vem com ele. Quero distância dessa sua incerteza, passar longe da sua inconstância, evitar ao máximo a sua falta de atenção, o seu jeito escandaloso e desleixado. Já pensei, uma vez, que queria te mudar, mas então entendi que, na verdade, você deve continuar exatamente como é. Cada um com seu cada um, encontrando seu rumo na vida. E o meu, apesar de ter cruzado com o seu (e se divertir voltando pra se entrelaçar com ele de vez em quando) deve seguir outro caminho. Coleto as experiências que você me proporcionou, e guardo com carinho as lições que me ensinou, mas é isso. Minha busca não é pela sua melhora, mas pela sua substituição. Porque me conheço bem. Sei que enquanto você ainda estiver aí e for o único nessa condição, eu voltarei. E nada contra essas voltas, que fique claro, nós dois sabemos que elas podem ser bem divertidas. No entanto, depois de um tempo vai chegar a hora de eu partir. E você já está mais do que ciente disso, já me apressa, mesmo que inconscientemente. Nessa minha busca por um par pra ocupar a cama, você é exatamente o sofá que está ali enquanto o esperado não chega.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Sonho

Foi totalmente por impulso. Só sei que, quando percebi, já estava no saguão do seu prédio, aquele lugar tão familiar, dando bom dia para o porteiro, aquele que começou a trabalhar aí há pouco tempo. Ele não me reconheceu e isso me matou um pouco por dentro. Em circunstâncias normais, seria preciso menos de uma semana para que eu fizesse amizade com ele. Mas as circunstâncias não são normais. Antes de ele perguntar meu nome, sua vizinha de frente apareceu. A Simpática. Ela, sim, se lembrou de mim na hora. Já veio me abraçando e dizendo para o porteiro que eu estava com ela. Cumprimentei-a e fomos até o elevador. Enquanto ele não chegava, a ansiedade começava a me atingir. Eu queria apertar logo a sua campainha, eu queria te ver. Eu queria que você me recebesse como já fez tantas vezes, com o mesmo sorriso no rosto e um brilho cada vez maior no olhar. O stress foi diminuindo. "Você está tão bonita!", eu queria que tivesse sido você, mas foi a Simpática que disse. Suspirei e agradeci, aproveitando para abrir a porta do elevador que havia acabado de chegar, e dar passagem para ela. "Sabe" ela continuou, parecendo receosa "ele tem estado bem mais saidinho depois que você parou de vir. Mais meninas vêm, e nenhuma delas é tão bonita quanto você". O olhar em seu rosto era de cautela. "Não que eu queira me meter nem nada, mas ele está esquisito". Não senti raiva dela, por incrível que pareça. Ela não fez nada além de ser sincera. De repente, uma onda de pânico me atingiu. É claro que eu sabia que você trazia outras. Eu conhecia bem essas outras, tinha uma lista mental de cada uma das meninas que eu sabia que estariam disponíveis para você assim que a gente se afastasse. Mas o medo de tocar a sua campainha e dar de cara com uma delas me congelou. Um rosto específico, o daquela que mais me preocupava, começou a dominar minha mente. Naqueles poucos segundos de elevador, imaginei todo tipo de cenário. Doeria tanto se você abrisse a porta e ela estivesse atrás, deitada no sofá, cobrindo a nudez com um lençol. Mas seria ainda pior se ela viesse à porta logo atrás de você, diretamente da cozinha, com um coque mal-feito e o nariz sujo de farinha. Essa era uma das nossas coisas banais. Eu ficava apavorada só de imaginar que ela poderia roubá-la. Respirei fundo. A porta do elevador abriu e eu percebi que a Simpática a estava segurando para mim. "Tchauzinho então, foi um prazer te ver!", ela disse, logo antes de abrir a porta de casa e me deixar sozinha no corredor. Comecei a surtar de preocupação. Não estava preparada para ver você com outra na sua casa. Já tinha cruzado com você em uma festa, dois churrascos e alguns bares, sozinho e acompanhado, e tinha até orgulho de ter sabido lidar tão bem com essas ocasiões. Mas pra ver alguém na sua casa eu não estava pronta, e nem achava que poderia ficar. Pensei em desistir, percebi que era o melhor a fazer. O elevador já tinha mudado de andar, subido muito. Bufei e apertei o botão. Ouvi um barulho de chave vindo da porta da sua casa. Amor, eu não acho que tenha ficado tão paralisada assim nem quando a gente achou que meu pai tinha acordado no meio da noite, lá em Búzios, lembra? Sua mãe e sua irmã saíram do seu apartamento. Tem um pouco mais de um mês que a gente terminou, mas como a sua irmã mudou! Por que ela parou de usar maria-chiquinhas, você sabe? Continua linda (isso é de família), mas agora aparenta bem mais do que os seis anos que tem. As duas demoraram a me ver, mas quando o fizeram, pareceram felizes, assim como eu estava. Não havia percebido o quanto eu sentia falta da sua família. Eles eram um pouco meus também, sabe? Sua mãe me cumprimentou primeiro, dizendo que estava com saudades. A pequeneninha eu abracei e peguei no colo, fiz questão de sentir o cheiro de shampoo infantil dela pelo máximo de tempo possível. Tudo na minha vida era tão adulto, tão sério, sua irmã era o melhor refresco do mundo, e eu sentia demais a falta dela. Um pedaço do meu cérebro, aquele que só pensa em você, fez questão de perceber que, se elas estavam ali e não pareciam nem um pouco incomodadas, não devia ter nenhuma mulher com você. Isso me fez abraçar sua irmã com ainda mais força. Ela riu quando eu fiz cócegas antes de colocá-la no chão, e então me encarou, com a expressão no auge da seriedade de uma criança de seis anos. "Eu não sei porque você e meu irmão terminaram" ela começou e eu fiquei com medo de ter que explicar tudo pra ela, bem ali. Eu não saberia explicar uma coisa que nem eu entendia. "Mas seja lá o que for, ele sente muito mesmo. Eu sei porque as vezes eu escuto as coisas que ele fala pro papai, e várias vezes ele fala que não consegue dormir por sua causa. Antes eu achava que era porque vocês tinham brigado, mas já faz um bizilhão de dias!". Uma lágrima tentou escorrer do meu rosto, mas eu impedi. Sua mãe nos encarou de canto de olho. Ela tentou repreender sua irmã por escutar as conversas alheias, mas não conseguiu ficar séria até o fim. "Quem eu estou tentando enganar?" ela riu de leve, com um olhar que não combinava com o sorriso "está óbvio que ele sente a sua falta mesmo sem ouvir as conversas". Eu a encarei, sem saber se sorria ou chorava. Sem me dar tempo para pensar, ela puxou a porta do elevador para prendê-la no andar e te chamou. O som do seu nome, ali naquela ocasião, foi um baque. "Vem se despedir da sua irmã", ela completou. Não muito depois, antes que desse tempo de eu me preparar, você saiu do apartamento esfregando os olhos e parecendo confuso. "Ela já me deu um beijo antes de sair", você disse e finalmente olhou para o corredor, soltando um "ah" que mais parecia fala de história em quadrinhos. Olhou pra mim, bem dentro dos meus olhos, como não fazia há 42 dias. Seu olhar de cachorrinho que sabia que tinha feito besteira era impagável. Levei um soco no estômago, dado exclusivamente por esse olhar. Sua mãe puxou sua irmã para o elevador e elas saíram, nos deixando sozinhos no corredor comprido. Você já tinha percorrido metade do caminho até o elevador, e não se deu ao trabalho de terminar o percurso. Um gesto de cabeça e um "entra" murmurado de modo quase ininteligível. Assenti e comecei a me aproximar. Quanto mais perto da porta eu chegava, mais você entrava em casa. Até que eu entrei também, e já encostei a porta por puro hábito. Você estava abrindo a porta da varanda, mas eu vi o sorrisinho quando a lingueta da maçaneta se chocou contra a madeira. Você sempre sorria daquele jeito quando eu entrava, e eu gostava de pensar que era porque eu realmente me sentia em casa ali. Com a varanda finalmente aberta (eu sei que você sempre precisa de ar fresco quando não sabe o que fazer), você se virou para mim e perguntou se eu queria alguma coisa. Ah, como eu queria. Eu queria um milhão de coisas com você e algumas delas a gente já tinha até listado em momentos de ócio. Um chaw chaw chamado Cão e um siamês chamado Gato. Trigêmeas que tivessem os seus olhos e as minhas covinhas. Uma casa de campo. Uma casa de praia. Uma casa flutuante. Mais outros 45 tipos de casa só porque a gente não conseguia escolher. Tantas coisas que eu achava que não queria mais, mas que de repente eram necessidades do meu corpo. Olhei para você depois de um tempo em silêncio e vi que você estava com uma expressão contrariada no rosto, quase de sofrimento. Não precisou de mais um segundo pra que eu me sentisse mal por te causar aquilo. Comecei a pensar em como tinha ido parar ali. O que me levou a sair da faculdade e entrar no ônibus pra sua casa, ao invés da minha. Percebi que, na verdade, me sentia perdida.
- Eu não tenho ideia do que vim fazer aqui. - concluí.
- Eu também não.
E aquelas palavras doeram. Mal consegui murmurar um desculpa antes de disparar pela sala e abrir a porta, implorando pelo resto da minha dignidade que o elevador estivesse, pelo menos, próximo. Assim que apertei o botão, senti uma mão no meu cotovelo. Exatamente o mesmo toque que havia sentido da primeira vez que te vi, mais de dois anos antes.
- Eu também não sei - você repetiu - mas obrigada.
Não entendi de imediato o que você quis dizer. O beijo que demos naquele momento foi quem me explicou tudo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Bagunça

Dedos e bocas
E bocas
E dedos


Palavras e bocas
E dedos e toques
E letras e dedos
E bocas e beijos


Repara, meu bem
Na enorme bagunça
Que bocas e dedos
Fazem
E arrumam

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Deslize

Eu me nego a te escrever
Porque não quero admitir
Que lembrei de você
Enquanto
Comprava lingerie
Fazia a unha
Almoçava em família
Tentava dormir
E não dormir
E de tanto me negar
A te escrever
Lembrei de você
Enquanto escrevia
E agora
Era.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Dominó

Eu lembro bem que
Você vivia dizendo
Que eu merecia
Alguém melhor


O que acontece, então
Se esse tal alguém melhor
Merece, na verdade,
Alguém melhor que eu?