quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Apocalipse


O mundo acabou. Assim, sem mais nem menos, todo o chão desabou e as folhas das árvores de repente não cumpriam mais o papel de proteger do sol cruel. E o sol era quente e gelado ao mesmo tempo, e penetrava na alma como quem faz um interrogatório. E agora? Ele perguntava. E agora o que você faz? Não tinha o que fazer, e não havia resposta. O que se faz, afinal, depois que o mundo acaba? Era pra tudo simplesmente ter ido pelo ralo, junto com as flores e as cores e os sons. Mas ficou algo. Ficou uma escuridão e ficou uma solidão e ficou um vazio e ficou um vácuo. Ficou um buraco por dentro que talvez fosse um buraco enorme por fora e talvez fosse uma queda livre no buraco e talvez… Tudo talvez. Nenhuma certeza e nenhuma satisfação. Dúvidas, questionamentos, e se e se e se. O mundo acabou e não deu pra segurar na ponta dos dedos. Se esquivou dos planos como quem foge de um predador raivoso. O mundo correu e resolveu fugir e resolveu acabar e resolveu deixar só a tristeza e o escuro (que tanto causa medo desde sempre). O mundo acabou e ficou o desconhecido. Ficou o terreno não explorado, a área que nunca foi tratada e com a qual não lidaram. Ficou o mal resolvido. Ficaram os gritos e ficaram as lágrimas e todos os sorrisos se foram e já avisaram que não têm hora para voltar. O mundo acabou. Acabou sem pena e sem planos, mas com pressa. Acabou tão rápido que um piscar de olhos parecia uma eternidade, e demorou tanto a acabar que cinco anos pareceram um flash. Uma história contada por trás das pálpebras e debaixo dos lençóis e terminando em gargantas fechadas e vozes silenciadas. O mundo acabou e com ele acabou toda a projeção. O mundo acabou sem a menor consideração. Acho que isso ele aprendeu com você.